Uma mulher ansiosa que não consegue dormir, então exige: exige respostas, exige sentimentos, exige que vão embora, que fiquem, que voltem, que a amem de volta. Como não consegue dormir, essa mulher cria e descria mundos inteiros enquanto seus companheiros apenas repousam ao seu lado. Ela tem inveja da facilidade com que eles dormem e é uma mulher que não sabe o que quer, já que, sem dormir, não consegue distinguir realidade e sonho, ilusão. Ela exige respostas. Implora por amor. Vai embora enquanto eles sonham.
“eu quero tudo. eu preciso saber se vou ter tudo. você consegue entender? você consegue? não, você responde e nunca esteve tão acordado ou tão cansado. é difícil ler teus olhos no escuro. eu sei que logo soltará a frase que todos eles soltaram antes de você deitar na minha cama e desejar dormir tranquilamente. você vai perguntar “o que você quer de mim, porra?” e eu nunca vou saber responder, nunca soube, para nenhum deles. eu vou rebater com um “e você, o que você quer de mim?” para ver como uma pessoa normal responderia porque eu não sei ser normal, você não entende? não vê?”
Tudo que eu falo enquanto você dorme são 40 cartas escritas nas madrugadas infinitas em que você olha para o canto escuro do quarto sem saber se lá existe um monstro, uma pilha de roupa, um jogo de luz, e, na dúvida, no medo, na crescente ansiedade, vê o sol nascer entre as frestas da janela e mostrar que estava tudo bem o tempo inteiro. é só sua cabeça. é só a insônia.
Literatura Brasileira / Poemas, poesias