O vigor e a sensibilidade de Drummond em poemas fundamentais sobre os afetos e a existência.
Publicado em 1980, A paixão medida captura o poeta às vésperas de completar oitenta anos (comemorados em outubro de 1982). Se, por um lado, a longa vivência de Carlos Drummond de Andrade dava-lhe a natural autoridade para falar de temas como memória e brevidade da vida, também lhe permitia altas doses de uma benfazeja irreverência, tanto nos temas quanto nas dicções presentes nos poemas. Experimentando as mais diversas formas poéticas, o autor faz desde o poema de teor filosofante à clássica lírica amorosa. No meio disso tudo, um Drummond que observa o século e oferece - com inteligência penetrante - uma leitura contundente e sempre cativante de tudo o que compõe nosso universo, das palavras à memória, da paixão humana à História.
O livro abre com A folha, poema meditativo que expressa a dúvida do poeta acerca do estar-no-mundo, sinal da grande vitalidade que o mineiro ainda ostentava: "A natureza são duas./ Uma,/ tal qual se sabe a si mesma./ Outra, a que vemos. Mas vemos?/ Ou é a ilusão das coisas?" Outros textos, como A suposta existência, O historiador e Nascer de novo, continuam a investir nesta seara, ao passo que poemas como A cruz e a árvore e Aparição têm um maior teor narrativo, comprovando a destreza drummondiana para esse tipo de modalidade. Com posfácio do ensaísta português Abel Barros Baptista, essa nova edição de A paixão medida apresenta um poeta que jamais abdicou do rigor e da busca do entendimento de si e de seu mundo em uma poesia que está entre os grandes momentos de nossa cultura.
Literatura Brasileira / Poemas, poesias