Eu: a primeira pessoa recorda. Descobertas no passado. Você: a segunda pessoa dialoga. Inquietações no presente. Ela: a terceira pessoa narra. Aventuras no futuro. As três pessoas - cada uma construindo uma coluna do romance - compõem uma única pessoa? Não.
O novo romance de Helena Parente Cunha, pelo seu próprio e inusitado arcabouço formal, questiona o conceito de identidade quando usado para aprisionar os vários e conflituosos "ângulos" de uma pessoa. Questiona, por isso, o que há de falso psicologicamente nas narrativas autobiográficas dominadas por um único e poderoso eu.
Aqui, a estrutura do ser está fraturada, e se se quiser falar de identidade desse ser, há que dar voz às intersecções silenciosas que orquestram a vivência dessa mulher múltipla e vária, constituída em diferença. Menina, amiga, esposa, mãe, amante, profissional...
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Por isso tudo, As doze cores de vermelho tinha de ser uma narrativa feita de indecisões, incertezas, titubeios, negaças - e afirmações contundentes. Nem a voz do ão nem a voz do inho. Além dos dois lados o ápice estrelado da cordilheira.
(Silviano Santiago)
Literatura Brasileira / Romance