As mãos da professora de literatura portuguesa

"Sua única aula do dia começou às 19h30. Uma disciplina eletiva cujo tema era a narrativa portuguesa contemporânea. A professora ministrava a aula com a desenvoltura de sempre. Andava de um lado para o outro, nunca se sentava. Havia um entusiasmo incontido quando ela falava de Teolinda Gersão, de Antônio Lobo Nunes. Via-se que ela idolatrava Agustina Bessa-Luís. Era apaixonante ver os sorrisos de batom vermelho, a solicitude em tirar toda e qualquer dúvida dos alunos. (...) Mas, por alguma razão, o que mais cativava a atenção de Roberto eram as suas mãos. Belas mãos de unhas pintadas que se movimentavam sem parar, ágeis, leves. Não raro ele se perdia em pensamentos, observando o movimento feito por elas, e se sentia idiota por isso, mas era inevitável. Às vezes, ela pousava as mãos nos quadris, para logo depois levá-las ao ar num infindável e admirável repertório de gestos, ajeitava os óculos, arrumava os cabelos curtos."

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