Ter o duplo como cerne de uma história não é novidade na literatura; Robert Louis Stevenson, Oscar Wilde e Fiódor Dostoiévski foram alguns dos grandes nomes que se apropriaram do mito germânico, ‘Doppelgänger’, para fazer suas interpretações e contar suas versões.
Na década de 1980, o então iniciante e local escritor Orhan Pamuk lançou ‘O castelo branco’, tendo por base o mesmo mito: um italiano acadêmico e preso e feito escravo pelos turcos e vendido a um paxá (titulo de nobreza do império otomano, o que equivale a um Lorde, do império inglês).
No entanto, seu conhecimento em medicina e astrologia faz com que se destaque entre os demais, e logo é vendido a Hoja, um estudioso de renome para o sultão (titulo de nobreza equivalente a um imperador).
O livro é claramente de contrastes. Meu primeiro livro do autor, o assunto é comum em sua vasta obra, evidenciando a questão entre as diferenças, e miscigenações, entre Oriente e Ocidente. Vale lembrar que a Turquia se divide entre dois continentes: asiático e europeu, o que com certeza proporciona um choque e uma conversa interessante sobre as diferenças, tanto culturais, quanto sociais.
O contraste, óbvio, se mantém na relação escravo e amo; as religiões de ambos: o cristianismo em atrito com o islamismo; assim como a cultura e organização das cidades italiana e turca. Até através de metáforas, algumas um tanto convincentes, outras que se perdem, são utilizadas com a intenção de explorar ao máximo a intenção do autor.
O mito do duplo se faz presente, então, na semelhança física dos dois, fazendo com que ambos questionem o outro e a si mesmo, além de proporcionar um exercício ao leitor sobre a mente e comportamento de cada um; suas semelhanças, diferenças, anseios e medos e pecados.
Com a intenção de fazer uma historia grandiosa para um tema comum e até simples, que é questão do ‘eu’, Pamuk acerta em muitas ideias, principalmente no contraste cultural entre as duas nações, mas acaba por se perder em algumas outras, de cunho mais metafórico, deixando o livro cansativo e maçante em alguns pontos.
A conferir seus próximos livros.
Este livro faz parte do projeto 'Lendo Nobel'. Mais em: