True Blood e a Filosofia - Queremos Pensar Em Coisas Más Com Você

    George A. Dunn, William Irwin

    Madras
    2011
    208 páginas
    6h 56m
    ISBN-13: 9788537006863
    Português Brasileiro

    Deus odeia caninos? Sam ainda é Sam quando se transforma em um collie? Sair do caixão é o mesmo que sair do armário? Todos os vampiros são ruins desde a sua criação? Vampiros, lobisomens, metamorfos, fadas, telepatas - True Blood e a Filosofia tem tudo isso. Em um mundo onde criaturas sobrenaturais convivem com humanos, Sookie Stackhouse e Bill Compton lutam com desejos intensos ao mesmo tempo em que se veem diante de questões complexas ligadas a sexo, romance, intolerância, violência, morte e imortalidade. Agora, esta obra convoca as mentes de alguns dos grandes pensadores da história para que realizem uma pequena dose de sangria filosófica nessa série provocadora do pensamento. Da metafísica da leitura de mentes ao culto de Dionísio de Maryann Forrester, da política vampira à natureza da identidade pessoal, e do feminismo contemporâneo aos direitos das espécies inumanas, True Blood e a Filosofia garimpa os pensamentos de filósofos como Platão, Aristóteles, São Tomás de Aquino, John Locke, Immanuel Kant, Friedrich Nietzsche e John Rawls para nos esclarecer sobre os temas intrigantes que cercam esse mundo sobrenatural. Você não encontrará escassez de petiscos metafísicos saborosos em que afundar seus dentes!

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    Fábio França02/05/2016Resenhou um livro
    5 (Perfeito)

    Filosofia engarrafada

    Como amante incondicional do tema vampirismo e mais ainda como fã inveterado do seriado True Blood, da HBO, posso dizer que a leitura deste livro foi uma experiência fantástica. Desde o começo sempre achei que True Blood tinha vasto material para estudo sociológico devido à sua riqueza alegórica de referências a temas atemporais como preconceito, lutas por direitos e igualdade, sexismo, racismo, homofobia, segregação e outros, além de críticas sarcásticas a política e religião. Contudo, ver a série analisada sob a perspectiva da filosofia é uma proposta igualmente instigante e enriquecedora. O livro é organizado em cinco partes muito distintas, cada qual dividida em três capítulos dotados de títulos sugestivos e que, por sua vez, dividem-se em subtítulos para uma abordagem mais organizada dos temas. Os capítulos da obra são escritos por autores diferentes, o que torna a sua organização em partes separadas não apenas útil, mas muito necessária. Em resumo, o conteúdo do livro pode ser simplificado assim (na ordem em que se encontram): 1ª PARTE : A ÉTICA HUMANO-VAMPIRESCA 1) Transformar ou não transformar: A Ética de fazer vampiros, de Christopher Robichaud, discorre acerca de temas como consentimento, respeito e ética, embasando-se principalmente na filosofia de Immanuel Kant e de seu conceito sobre o imperativo categórico. 2) Fantasiando-se e brincando de ser humano: Assimilação dos vampiros no playground humano, de Jennifer Culver, como o próprio título sugere, reflete sobre assimilação e aceitação através da obediência às regras sociais. Nessa parte, onde a participação do indivíduo na sociedade é representada como um jogo, os fundamentos são embasados na filosofia de John Huizinga e sua definição de jogo. 3) Bichos de estimação, gado e formas de vida superiores, de Ariadne Blayde e George Dunn, filosofa sobre os valores dos seres, quando postos em escala comparativa. Assim, questiona a superioridade dos seres humanos em relação aos demais animais e, naturalmente, da superioridade dos vampiros em relação aos seres humanos. Para tanto, utiliza ideias de Kant (autonomia moral), Aristóteles e Tomás de Aquino. 2ª PARTE: A POLÍTICA DE SER UM MORTO 1) Pacto de sangue: Os direitos e o contrato social vampiresco-humano, de Joseph J. Foy, argumenta sobre a questão dos direitos civis e suas implicações quando sociedade e religião entram em atrito. Aqui duas perspectivas filosóficas ganham destaque: o direito natural de John Locke e o contrato social de John Rawls. 2) Querida, se não podemos matar os humanos, para que serve ser um vampiro?, de William M. Curtis, lida com conceitos sobre política, cidadania e direitos de grupo, evocando princípios aristotélicos sobre política e ética, tolerância e autonomia, além do liberalismo de Kukathas, e a socialização e identidade vampirescas sob a alegoria de Thomas Nagel sobre experiências subjetivas. 3) Sangue de mentira: A política da artificialidade, de Bruce A, McClelland, reflete sobre a inserção social através da artificialidade, baseando-se no consumo do TruBlood como forma de formar consumidores ideais e vulneráveis, suprimindo as identidades. 3ª PARTE: EROS, SEXUALIDADE E GÊNERO 1) Saindo do caixão e do armário, de Patricia Brace e Robert Arp, toma por base o slogan God hates fangs e discorre sobre a natureza sexual vampiresca, suas analogias à homossexualidade e a intolerância social vinculada à religião. Faz também analogias à alimentação e sexo dos vampiros de True Blood. 2) Eu sou Sookie, ouça meu rugido!, de Lillian Craton e Kathryn Jonell, lida com feminismo e independência sexual (tema que é aprofundado na parte seguinte). 3) Sookie, Sigmund e o complexo comestível, de Ron Hirschbein traça paralelos entre a psicanálise freudiana e sua relação com sexo, instinto, controle, dentro e fora do universo de True Blood. 4ª PARTE: O NATURAL, O SOBRENATURAL E O DIVINO 1) Que venham os Bon Temps: Sacrifício, bodes expiatórios e bons tempos, de Kevin Corn e George Dunn, fala do desvio de culpa feito pela massa para manter sua união comunidade, a loucura coletiva da mentalidade de grupo descrita por Nietzsche e posta em prática na 2ª temporada de True Blood em seu culto dionisíaco. 2) Seriam os vampiros não naturais?, de Andrew Terjesen e Jenny Terjesen, explica conceitos de natural, inatural e imoral desde a semântica até as explicações mecanicistas de Descartes. 3) Deus odeia caninos?, de Adam Barkman, desmistifica algumas características religiosas associadas aos vampiros, discute o livre-arbítrio e algumas ideias filosóficas obsoletas, como de Allatius em relação a demônios e possessões. 5ª PARTE: A METAFÍSICA DOS SERES SOBRENATURAIS 1) O coração de um vampiro tem razões que o naturalismo científico é incapaz de compreender, de Susan Peppers-Bates e Josh Rust, debate ideias como existência e universo conforme a metafísica, mencionando Tales, o naturalismo científico e a vida sob o ponto de vista científico, bem como as implicações filosóficas decorrentes dessa perspectiva. 2) Escondendo segredos de Sookie, de Fred Curry, reflete sobre experiências subjetivas da consciência (os qualia) e cita, como exemplo, o espectro invertido de John Locke. 3) Vampiros, lobisomens e metamorfos: Quanto mais eles mudam, mais continuam os mesmos, de Sarah Grubb, encerra o livro retomando a discussão sobre identidade pessoal, levantando conjecturas por meio da teoria corporal, teoria da memória e continuidade psicológica. True Blood e a filosofia é, a meu ver, um livro riquíssimo em referências e solidez nos argumentos, indispensável aos amantes da série, mas também a quem deseja se aventurar em variados aspectos da filosofia através da deliciosa alegoria vampiresca construída por Alan Ball a partir da obra de Charlaine Harris.

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