<p align="justify">Ah a guerra. Que palavra definiria melhor o período de 1939 a 1945? Max Hastings encontrou a resposta: Inferno. Não ia ler esse livro, mas quando vi já tinha solicitado pela parceria com a editora Intrínseca. Decidi subitamente que já estava na hora de largar os livros romantizados sobre o período e encarar novamente uma nova leva de história real. E que surpresa. Ainda estou atordoada com a escolha de posicionamento do autor. História imperdível para qualquer ser humano com o mínimo de consciência histórica.
Max Hastings já escreveu diversos livros sobre a Segunda Grande Guerra. Sob o ponto de vista dos judeus, sobre a invasão da Alemanha, sobre a blitz de Londres e impacto na população. Já abordou diversos pontos dentro do conflito e foi premiado diversas vezes por tal, mas dessa vez ele sabiamente decidiu abordar as vozes da guerra. Pessoas comuns, soldados, aliados e inimigos. Os horrores pessoais vividos por cada um mundo a fora enquanto nos grandes salões governos se debatiam e relutavam em entrar de vez na luta. Uma visão que choca e surpreende por apresentar uma visão totalmente distante da face romantizada que nós do ocidente costumamos dar, e receber de diversos meios, a guerra. Esqueça tudo o que sabe sobre o período. Os EUA não entraram na guerra no espírito coletivo de patriotismo. A Inglaterra não estava empenhada sobre a mesma balança na luta contra Hitler. E mais importante: nenhum dos governos mundo a fora demonstrara qualquer vontade idealista humanitária para lutar. Queriam proteger territórios coloniais e os próprios interesses econômicos.
O autor apresenta uma versão nua e crua da guerra. Governos hesitantes, exércitos despreparados, estratégias mal elaboradas que custavam vidas, e o achismo de ambos os lados que por muito tempo adiou a entrada americana na guerra. O mais chocante da história apresentada por Hastings é sem dúvida a parte sobre a operação Barbarossa. Testemunhos de soldados russos e alemães, bem como da população de ambos os países. A mal fadada invasão alemã ao território russo que uniu um povo que até o momento estava esfacelado pela ditadura lunática de Stalin. O mesmo Stalin que mandou milhões de jovens para a morte, que repetidamente ordenou ataques cujo resultado era a morte certa na mão dos alemães.
Já na introdução fica claro o diferencial do livro. Partes pouco lembrada da guerra foram retratadas de forma justa pelo autor. Como a triste história de Leningrado/São Petersburgo que foi deixada faminta por meses e a morte sistemática de jovens russos tanto pelas mãos do inimigo quanto pelas mãos de seus próprios comandantes. No meio disso tudo está todo o tipo de relato. De altos comandantes a camponeses. Poloneses, gregos, italianos, judeus, finlandeses, japoneses, americanos e britânicos. De frases sensatas a empolgação insana dos pilotos da RAF e da Luftwaffe. As mais sinceras frases de pessoas que sonhavam em lados diferentes, mas que lutavam pela mesma coisa: sobrevivência. Max Hastings intercala o desenrolar da guerra com o sentimento humano a cada nova etapa do conflito.
Leitura surpreendente e enriquecedora. Dos primeiros meses do conflito ao pós-guerra. Uma visão única e diferente de tudo o que já havia lido ou visto sobre o período de 1939 a 1945. Chocante, surpreendente e que marca quem lê não apenas pelos depoimentos, mas pelo conjunto de informações. A edição da Intrínseca está muito boa. Com fonte agradável, mapas, fotos, fontes bibliográficas e referências tudo organizado ao longo e no final do livro. Notei alguns erros de ortografia, troca de letras, mas foram poucas vezes. Recomendado a todos. Principalmente aos que apreciam estudar e compreender o período. Nunca havia me deparado com um relato tão sombrio e tão despido de sentimentos, imagens preconcebidas. Leiam! Até mais!
Leia mais resenhas em: http://www.cultivandoaleitura.com/2013/01/resenha-inferno-o-mundo-em-guerra.html</p>