Já vi muitos retratos, nenhum igual a esse. É uma menina de perfil, o cabelo cheio preso num laço, o rosto curvado para baixo. Tem uma sensualidade triste esse rosto, uma espécie de ar de esfinge ou de anjo em estado de repouso. A pálpebra se fecha esfumaçada sobre o olho, e isso me impressiona, essa fina membrana cobrindo um olho que mira a eternidade. A boca, feita de um pequeno rasgo, em tom de terra de Siena queimada, tem a mesma cor do laço. Não sorri. É uma criança que medita.
Há uma pálida claridade no fundo do quadro, uma luz de três horas da tarde, talvez filtrada por uma cortina. Também isso me impressiona, que nada distraia essa criança, que seu rosto se esboce fora do tempo numa expressão instintivamente elevada. Ela tem seis anos de idade. É minha mãe.