Você já pensou o quanto o conhecimento da existência da morte traz o fim para mais perto? As pessoas que moram em Bakhra, não.
“Carniça”, de Paula Febbe, conta a história de uma aldeia em que os habitantes não morrem, pois não possuem conhecimento sobre a morte. A morte não é significada, falada, discutida ou sentida. Ela simplesmente não existe, nem nunca existiu.
Acontece que, o que poderia ser visto como o maior alívio da existência humana, interfere de uma maneira muito particular nas relações entre as pessoas e na relação delas com o mundo. Já o narrador, mortal que chegou nesse local sem entender nada, começa a perceber que a falta da morte se desenvolve como um incômodo latente e crescente para ele. Uma revolta que mostra a construção de uma tensão jamais possível se o fim de todos da aldeia acontecesse.
O livro foi escrito durante a pandemia e, não por menos, traz fortes elementos de um apelo em prol da vida eterna. Enquanto cada dia mais pessoas ficavam doentes e morriam, Paula Febbe estava em quarentena pensando sobre como a sociedade reagiria se conseguisse se livrar desse grande peso do fim. Do medo de sair de casa. Do medo de perder quem amamos. Do medo de deixar de existir.
"Carniça" é uma ode à morte, à vida, e uma representação simbólica do quanto nos doamos sem pensar. É também uma ode à muito do que nos move, mas pode nos destruir.
Horror / Terror