Evy 22/12/2023Demorei pra Digerir!Já começo essa resenha dizendo que é sem condições o tanto que essa mulher escreve bonito e como eu sou apaixonada pela sua narrativa. Eu gosto do modo como a Paula constrói a história e as frases dentro dela. É uma construção muito original e muito dela, embora a cada livro se mostre de formas diferentes.
Nesta obra, que já traz um título que mete o pé na porta, Paula Febbe nos mergulha em um universo onde a morte é uma percepção relativa, um enigma dentro de uma vilarejo onde a ausência de palavras, explicações e a própria morte é uma regra. Através da jornada do protagonista, um fantasma confrontando sua existência passada e presente, a autora habilmente tece uma narrativa que ecoa além das páginas.
Entrelaçando reflexões sobre o tempo e a essência da vida humana, a figura do morto revisitando sua vida passada enquanto preso em um lugar de imortalidade instiga uma profunda análise sobre o peso da culpa. A sensação angustiante de um purgatório pessoal, carregando o fardo das escolhas feitas, ecoa de maneira vívida em cada página. Assim como o próprio protagonista, vamos descobrindo aos poucos, onde ele está, como e porquê chegou ali.
De forma visceral somos confrontados com nossas próprias vivências e somos convidados a revisitar nossas escolhas. Estas que poderão trilhar nossos cominhos futuros ou serão nossas eternas renúncias. "Carniça" é muito mais que um simples relato sobre a vida após morte, é um convite à introspecção e um exercício de encarar nossas próprias jornadas em um espelho de realidade que talvez não estejamos preparados, mas que se faz necessário.
Impossível não lembrar da frase de Nietzsche em sua obra "Além do Bem e do Mal" onde diz que "
Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você". Carniça é esse abismo que te olha, e a Paula o empurrão direto ao encontro dele.
Super recomendo esse mergulho único.