Enquanto aguarda julgamento, o narrador deste relato de recorte proustiano, escrivão e preso de Justiça, detido em seu próprio cartório por crime de assassinato, perscruta-se "no corpo do papel". Mas a busca do tempo perdido, o mergulho para recuperar "algumas manchas luminosas" do passado, faz-se aqui em luta contra os ardis do tempo, como resistência de todo um mundo arcaico, "canteiro de ruínas".
A esses ardis do tempo, transformando coisas e pessoas, o narrador ciente, escrivão intelectual. "paparicador" de livros convertido em escritor, capaz de traduzir "reminiscências em frases escovadas", numa mimese de escorreita sintaxe dos escribas públicos, fiel a pormenores, opõe os ardis da forma.
Ficção / Literatura Brasileira / Romance