É um "grande" da história que se confessa. Numa época em que estão na moda "memórias", "diários" e "autobiografias", é mais do que atual a leitura deste clássico cristão. É um dos raros livros que enriquecem tanto a biblioteca do literato como a do pensador e do místico. Grande originalidade o diferencia das memórias de nossos contemporâneos, quase sempre teses ou oportunidade de os autores se colocarem em evidência; de subentender atenuantes para se desculparem; de se comprazerem no falar de si mesmos, ainda quando se acusam. Agostinho faz uma autoacusação sem atenuantes nem complacências. É uma reflexão introspectiva que acolhe, em cada momento da vida, a presença de Deus, "mais íntima que a própria intimidade", que traz no centro, diretamente, o doador de todo bem e, como reflexo, o homem, enquanto procurado e alcançado pelo bem. Trata-se realmente de uma "confissão" no duplo sentido que o latim confere a este termo: confessar a própria miséria e confessar a grandeza da misericórdia divina. Eis por que, passados dezesseis séculos, o leitor de hoje encontra, neste livro, um pouco de si mesmo, um pouco de suas próprias "confissões".
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