Poderes míticos atribuídos ao coração atravessaram séculos, mas foram ruindo sucessivamente. Para Aristóteles, além dos vasos sanguíneos, os nervos tinham origem nesse órgão. Porém, ao demonstrar que os nervos originam-se e tem seu controle no cérebro, Galeno deu o primeiro grande passo no sentido da desmitificação do coração, ao qual eram atribuídos, também, o pensamento e a fala, visto que o som desta é produzido no tórax. Erasístrato concebeu o coração bombeando pneuma (espíritos) para o interior das artérias, fazendo com que elas pulsassem. Galeno desautorizou mais esse equívoco ao comprovar que, no interior das artérias, não existe pneuma, mas apenas sangue. De modo semelhante, devido à crença equivocada de que o sangue só poderia receber o espírito vital (oxigenação) no coração, uma grande discussão demandou mais de um século até ser admitido o fato de que esse processo é desenvolvido nos pulmões. Surgiu, então, a teoria do coração-bomba. Com base nos conceitos inovadores de Realdo Colombo sobre a sístole e diástole cardíacas, Harbey reduziu às contrações do coração e das velas e os movimentos ativos do aparelho cardiovascular, e atribuiu a esse órgão o bombeamento do sangue para todas as partes do corpo. Com o advento do microscópio óptico e a decorrente possibilidade de visualização dos vasos capilares, uma inovadora concepção sobre as ações do sistema cardiovascular foi desenvolvida por Nishi. Trata-se da teoria da capilaridade, que se opõe à do corção-bomba e busca, inevitavelmente, suplantar mais essa presumida capacidade emprestada ao coração. Com isso, talvez o maior poder já atribuído a esse órgão esteja sendo desmitificado. Confira, no presente estudo, quanto essa (aparente incrível) afirmação é verdadeira.