Esta obra, do premiado artista plástico e desenhista argentino Luis Scafati (55 pp.), que também responde pelo texto, é um "romance gráfico", um romance contado em linguagem gráfica ou plástica. Mas apesar de hoje conhecida e consagrada, representando todo um nicho de mercado, essa expressão poucas vezes foi tão adequada. Pois poucas vezes a linguagem das artes plásticas foi usada de maneira tão intensa para traduzir visualmente uma narrativa - e poucas vezes uma narrativa foi tão perfeitamente traduzida em linguagem visual.
Essa intensidade tem dois aspectos principais. De um lado, Scafati é um profundo conhecedor da pintura e do desenho do século XX. Se isso poderia apontar para um mero virtuosismo, na verdade, faz com que linguagens visuais conhecidas de um século de barbárie impregnem a ficção de modo a torná-la "semelhante" às demais barbáries reais. Paradoxalmente, ao receber tanto elementos visuais relacionados a barbáries históricas, as barbáries da narrativa tornam-se mais verossímeis.
Duas das influências mais evidentes da Scafati em Drácula são a pintura pós-cubista e pós-expressionista do inglês Francis Bacon, com seus rostos e corpos deformados por manchas de tinta, e os desenhos do expressionista alemão George Grosz.
Resta falar do texto. Este reduz a história a um esqueleto dramático, pequenas e secas porções estruturantes da narrativa, quase telegráficas: "Ultimamente lady L. tem um pesadelo que a faz gemer e se revirar no seu leito. Ao despertar, sozinha em um emaranhado de lençóis, se sente abatida. Passa o resto do dia lânguida e sonolenta esperando a noite". Essa objetividade textual, de um lado, torna a leitura rápida e também tensa, e de outro, evidencia ainda mais o contraste com a exuberância "gótica" da sucessão impactante de imagens. Por fim, a diagramação, dando perfeito destaque tanto às imagens quanto ao texto, equilibra e funde os dois elementos sem comprometer a individualidade de cada linguagem.
Cinema / Drama / Ficção / Horror / Literatura Estrangeira / Terror