Miguel Jorge, neste Em Busca do Coração no Sábado à Noite, funda uma nova cidade de quarenta paisagens, onde nos deparamos com o mundo.
E o mundo é Goiânia, o mundo é uma paisagem rarefeita se equilibrando entre a realidade devassada e os filtros calibrados do autor, o mundo é essa defesa cotidiana daquilo em que se acredita, o mundo é um horizonte sem retoques, sujeito ao filtro das personagens, que atenuam ou agravam a realidade.
O mundo é o espetáculo insalubre, o conflito.
os diálogos, os eventos são dilacerantes, como se a cidade estivesse prestes a ruir, a se precipitar num abismo delineado pelos seres que a habitam. Tudo parece ser uma preparação para esse fim.
O autor rastreia as fragilidades desses cenários incompletos, convocando o leitor a fazer dupla com ele nessa dissonância de hipocrisias, de vinganças. O leitor se sente como Délio, que crava agulhas debaixo das unhas do pai morto.
O autor veste a cidade com máscaras que apenas iludem e nada cobrem. A cidade sabe exatamente quem é. Eis um escritor onipresente-onisciente, que interfere nos eventos assim que ocorrem.
O escritor narra a própria interferência na história, criando um ambiente de insegurança e ambivalências. Mas até que ponto interessa ao leitor uma verdade que se constrói aos poucos dentro de uma ficção.
O romance é uma única paisagem pintada pelas personagens, um cenário construído escrupulosamente com um pincel fino e tintas ilusórias.
Literatura Brasileira / Romance