Em seu Ensaio sobre a jukebox, de 1990, Handke foge de qualquer cronologia linear e de processos de narrativa convencionais. Fazendo uso de sucessivas sobreposições, o autor compõe uma metafísica da escrita que deságua na leitura de uma realidade que se torna irreal de tão premeditadamente elaborada.
A busca quixotesca do protagonista pela jukebox o leva a vários lugares e períodos, suscitando referências artísticas, literárias e cinematográficas diversas, bem como meditações sobre a história e o cotidiano. A cada vez, esses movimentos representam a impossibilidade de abraçar a realidade e de fazer coincidir a vida interna com a experiência do mundo. Toda a composição da jukebox enquanto falsa protagonista serve como biombo para destrinchar a poética handkeana do cotidiano.
O autor rege a ópera mapeando estes movimentos a partir de sua escrivaninha (tendo como ferramentas apenas papel e lápis) no quarto de hotel em Soria, pequena cidade no interior da Castela espanhola. O embate entre a jukebox e a escrivaninha acaba sendo o real enredo deste ensaio em que Handke abre a caixa de Pandora de sua escrita.
Biografia, Autobiografia, Memórias / Ensaios / Ficção