Três jornalistas franceses - Frédéric Lenoir, Jean-Philippe de Tonnac e Catherine David - entrevistam quatro intelectuais sobre o fim dos tempos e exploram os medos e as especulações que o termo suscita na humanidade ao longo dos séculos. Com formações e áreas de interesse distintas, Umberto Eco, Stephen Jay Gould, Jean-Claude Carrière e Jean Delumeau driblam os lugares-comuns associados à noção de Apocalipse para investigar, com erudição e inteligência, novos ângulos de um tema fascinante. Apesar do aspecto sombrio, o tema é atacado pelos quatro com uma razoável dose de bom humor.
Em plena era de Internet e de overdose da informação, Umberto Eco ensaia uma reflexão sobre a memória e o esquecimento. Ao fim de um século cansado de utopias, o intelectual italiano arrisca-se a adiantar alguns aspectos que marcarão o mundo do século XXI.
Seu companheiro de empreitada é o paleontólogo Stephen Jay Gould habitualmente mergulhado num mundo de fósseis e eras geológicas. Ele e seus colegas sabem que já houve muitos fins do mundo, como o provocado pela queda do asteróide que extinguiu os dinossauros. A história da vida foi pontilhada de várias dizimações massivas e brutais. A evolução não é um longo e tranqüilo rio, afirma. O professor americano também conta histórias curiosas, como a do papa que roubou dez dias à humanidade ao organizar um novo calendário. À vontade tanto na biologia como na geologia, ele trabalha com a noção de tempo profundo, que mede a história do universo em termos de bilhões de anos.
Especialista na história das religiões, o francês Jean Delumeau discute de que forma o cristianismo, o judaísmo e o islamismo encaram termos como a origem dos tempos e o Juízo Final, o paraíso e o inferno.
Delumeau também passa em revista a galeria de autoproclamados salvadores da humanidade que, jogando com a marca mágica do ano mil, alimentaram o fervor apocalíptico das multidões. Ao repensar nossas idéias sobre o tempo, o roteirista Jean-Claude Carrière recorre tanto à mitologia indiana como ao dia-a-dia dos parisienses apressados. Faz alusões à habilidade dos relojoeiros do passado, mas também aos efeitos especiais de Hollywood.
Umberto Eco, semiólogo italiano, mundialmente conhecido como romancista através de O nome da rosa e O pêndulo de Foucault, é um intelectual que não impõe fronteiras à sua curiosidade. Jean Delumeau, professor do Collège de France e estudioso da história do cristianismo, é autor de várias obras, entre elas Mil anos de felicidade, ensaio sobre o milenarismo já traduzido no Brasil. Católico, ele concilia fé e inteligência. Jean-Claude Carrière, além de escritor e autor de roteiros para filmes de Buñuel, Goddard e Oshima, é um orientalista familiarizado com clássicos indianos como o Mahabharatta, por ele adaptado para a tela, e com a intrincada mitologia da religião hindu. Stephen Jay Gould, professor de Harvard, é um paleontólogo que não limita seus interesses aos dinossauros. À vontade tanto na biologia como na geologia, ele trabalha com a noção de tempo profundo, que mede a história do universo em termos de bilhões de anos.