É numa pequena cidade do interior do nordeste, com seus tipos e personagens tradicionais, como o Padre, o Delegado, o Prefeito, que essa festa sinistra dos mortos-vivos acontece.
Mantendo-se fiel à proposta de traduzir para um cenário sertanejo a pegada das histórias de terror (como fez eu seu primeiro livro, "Maldito Sertão"), Márcio constrói um apocalipse zumbi temperado pelo sol e pelas paisagens rochosas e empoeiradas de um Sertão urgente, lapeado de realidade, onde precisaram cortar todos os excessos, onde o sol onipresente e onisciente parece conhecer e consumir cada recanto daquele lugar e das pessoas que ali vivem, e acaba por assumir-se como o palco da maioria das cenas da história, como se neste interior não houvesse tempo para o anoitecer.
Com uma narrativa simples e direta, bastante teatral e cênica, o criador dessa história atravessa o horizonte do sertão, o grande tropo da literatura brasileira do século XX, com imagens rápidas de horas de flagelados aos farrapos se arrastando em busca de comida, contaminados de uma desconcertante pulsão que mesmo na morte os move em sua fome sem fim. Pois como o próprio autor coloca na boca de um de seus personagens: "pra que pressa, mãe, se as arribaçãs rasgam o céu como se soubessem que vamos todos morrer?".
Literatura Brasileira / Suspense e Mistério / Terror