"Adquirimos conhecimentos extraordinários sobre o mundo(...) e, no entanto, por todo o lado, erro, ignorância, cegueira progridem simultaneamente com os nossos conhecimentos". Assim começa "Introdução ao Pensamento Complexo", esta pequena "Grande" obra de Edgar Morin. Mas onde Adorno e Horkmeier concluíam que "A Razão é totalitária" e balanceavam num "pessimismo descontrolado" face à razão, Morin oferece a ideia exatamente contrária "uma tomada de consciência radical é-nos necessária", porque "estes erros, ignorâncias, cegueiras, perigos têm uma característica comum que resulta de um modo de organização do conhecimento mutilante, incapaz de reconhecer e apreender a complexidade do real".
É a esta "tomada de consciência radical", a esta nova "organização do conhecimento" que permite apreender o mundo e a "complexidade do real" que Edgar Morin se dedica há mais de trinta anos, conforme o comprovam as suas inúmeras obras.
Mas Edgar Morin é dos raros autores que atacou frontalmente as questões do método que permeiam repensar o mundo de hoje com os instrumentos intelectuais do presente. E é neste enquadramento que é necessário colocar a presente reedição desta "Introdução ao Pensamento Complexo".
Esta obra, imprescindível, permite lembrar três pontos importantes. Primeiro, que uma teoria do conhecimento é sempre uma teoria da sociedade, que uma das questões centrais das ciências continua a ser a do "problema da organização do conhecimento". Segundo, que o pensamento complexo, mesmo inacabado - sobretudo porque não é acabado - é um elemento fundamental na atual reflexão sobre nossos sistemas de pensamento. Por fim, apesar da dificuldade deste trabalho de reflexão sobre o mundo, somos capazes de o fazer bem.
Como diz Edgar Morin, de forma bela, "estamos condenados ao pensamento incerto, a um pensamento crivado de buracos, a um pensamento que não tem fundamento algum de certeza. Mas todos somos capazes de pensar, nestas condições dramáticas".