Contemporâneo de Homero, Hesíodo viveu num período em que os poemas ainda não eram escritos, quando o alfabeto grego, mais tarde adaptado da escrita fenícia, ainda não fora criado. Hesíodo, como Homero, era um aedo (cantor, em grego), um praticante do culto às musas e à deusa Memória que sabia de cor diversas e extensas canções.
Nessa condição, Hesíodo, nascido no século VIII A.C., compôs esta canção basilar do legado cultural e espiritual do Ocidente, a que séculos depois os mestres-escolas da cultura clássica dariam o nome de Teogonia, palavra que em grego significa “nascimento de deus” ou “dos deuses”.
Composta de aproximadamente mil versos hexâmetros, a Teogonia nos revela o surgimento do mundo por meio do nascimento dos numerosos deuses que arvoram o panteão grego.
Segundo o filólogo e classicista alemão Werner Jaeger, “os três elementos essenciais para uma doutrina racional do devir no mundo aparecem… com evidência, na representação mítica da Teogonia: o Caos, o espaço vazio; a Terra e o Céu, fundamento e dossel do mundo, separados pelo Caos; e Eros, a força originária e criadora do Cosmos” (Paidéia: A Formação do Homem Grego).
Esta canção cósmica, criada na Beócia por Hesíodo, num contexto de pequenos agricultores em terra escassa, atravessou as eras incólume, viva, grandiosa.
O escritor Henry Bugalho decidiu-se agora a traduzi-la, e bem, aproximando-a do leitor atual através da melhor refação possível da potência melódica original, bem como da clareza sublime com que era cantada aos atônitos aldeões dos umbrais da história grega.
Marcos Pamplona
Poemas, poesias