Com 'O Reino e a Glória', a investigação sobre a genealogia do poder iniciada pelo filósofo italiano Giorgio Agamben com a obra 'Homo sacer' chega a uma encruzilhada considerada decisiva. Em seus estudos, Agamben desvenda qual é a relação que liga o poder à glória e a todo o aparato cerimonial e litúrgico que o acompanha desde o início. Procura revelar que, nos primeiros séculos da história da Igreja, a doutrina da Trindade (o Pai, o Filho e o Espírito Santo) é introduzida sob a forma de uma 'economia' da vida divina, como um problema de gestão e de governo da 'casa' celeste e do mundo, aparecendo inesperadamente na origem de muitas categorias fundamentais da política moderna, desde a teoria democrática da divisão dos poderes até a doutrina estratégica dos 'efeitos colaterais', desde a 'mão invisível' do liberalismo smithiano até as ideias de ordem e segurança. As investigações desta obra remetem a uma ciência dedicada à história dos aspectos cerimoniais do poder e do direito, uma espécie de arqueologia política da liturgia e do protocolo. Tais estudos situam-se no rastro das pesquisas de Michael Foucault sobre a genealogia da governabilidade e alcançam os primeiros séculos da teologia cristã, em que a doutrina trinitária serve como forma mais clara de revelar o funcionamento e a articulação da máquina governamental.
Filosofia / Política