Clarissa Corrêa foi minha aluna. Peraí. Você já deve estar concluindo que ela aprendeu comigo alguma coisa. Não, eu fui seu aluno disfarçado de professor. Cada texto que vinha de seus olhos enormes e de suas sardas iluminadas roubava um riso que eu ainda não havia inventado em minha escrita. Sua produção me converteu em um docente pontual, que frequentava o campus com gosto, não reclamava do cartão-ponto e da lista de chamada obrigatória. Tudo para ouvir sua voz temperamental, passional e lúcida de Cyndi Lauper. Era confessional, mas absurdamente impessoal nas teorias. Como? Falava de si para teorizar o comportamento dos outros. Aqui, ali ao mesmo tempo.
Suas crônicas são ácidas, caem no colarinho e não saem com tira-manchas, perfuram o tecido até marcar a pele para sempre. Humor desesperado sobre relacionamentos desesperados sobre respostas desesperadas. Se não mentíssemos o que sentimos, não enfrentaríamos nenhum constrangimento na vida a dois. Mas mas mas mas a literatura é quando contamos a verdade. A derradeira transparência.
Um pouco além do resto é contido na linguagem, porém exuberante nas sugestões. Confirma o quanto complicamos a felicidade. É somente estar feliz que já cavamos suspeitas, provocamos brigas, recrutamos flertes para testar o amor do outro. A simplicidade não sacia ninguém – é o que parece lendo Clarissa, mesmo que a simplicidade seja o que a gente sempre sonhou em um relacionamento. O medo do futuro estraga o presente, e altera inclusive o passado. Não duvide do poder do pensamento: ele destrói amores perfeitos. São as suposições que se agigantam, e não diferenciamos o que é receio do que é real. Essa mania de procurar coisa onde não tem.
Desconfie menos, acredite mais. E aprenda com Clarissa como eu aprendi. - Fabrício Carpinejar