Nas montanhas Rochosas canadianas formou-se há 530 milhões de anos o Xisto de Burgess, onde jazem os restos de um mar antigo que albergou mais seres vivos do que todos os que povoam actualmente os nossos oceanos - criaturas inacreditavelmente bem conservadas, como o estranho Opabinia, com cinco olhos, ou o Sidneyia, cujo tubo digestivo revela ainda a última refeição que tomou.
A sua descoberta no início do século por Charles Walcott poderia ter revolucionado os conhecimentos sobre a evolução.
Walcott não foi, porém, capaz de interpretar correctamente a mensagem inscrita nos fosséis de Burgess, tendo-os atribuído invariavelmente a filos conhecidos de anelídeos e artrópodes. E as coisas mantiveram-se assim até Harry Whittington ter resolvido abrir as gavetas de Walcott quarenta anos mais tarde...
A história das razões que levaram ao fracasso de Walcott e ao êxito de Whittington constitui um dos melhores relatos de sempre sobre a ciência, a sociedade e nós próprios.
Rompendo com a iconografia convencional - que representava a evolução como uma escada do progresso ou um cone de diversidade crescente -, as descobertas efectuadas no Xisto de Burgess vieram mostrar que as extinções têm, afinal, um carácter de lotaria, que a contingência desempenha na história um papel decisivo e que, assim, é bem provável que o ser humano só tenha aparecido por mero acaso.
Drama