“Orlando” narra a vida de um jovem nobre inglês da era elisabetana, dotado aparentemente de imortalidade e que vive há três séculos sem envelhecer e que abruptamente se transforma em mulher.
O romance, baseado em parte na vida da amiga íntima de Virginia Woolf, Vita Sackville-West, é geralmente considerado como um das obras mais acessíveis da autora. O romance, que tem sido influente estilisticamente, é considerada como um dos expoentes da Literatura do século XX em geral, e particularmente na história da escrita das mulheres e dos estudos de gênero. Possuindo um relato agradável, valendo-se da temática temporal, uma das marcas de Virginia Woolf ao se valer da variante literária e estilística, apresenta um lado misterioso e quixotesco ao trabalhar as ambiguidades da identidade feminina e masculina e suas relações com a condição humana. Bem-humorado, é um dos grandes exemplares do modernismo inglês e um dos ápices da arte literária de Virginia Woolf. Além do interessante e original argumento, a narrativa se destaca pela beleza das descrições e pelo lirismo de suas reflexões e diálogos. Verdadeira poesia dentro da prosa.
Mas quem é Orlando? Homem ou mulher? Este é o ponto de partida de uma das obras mais controvertidas e sem dúvida conhecida de Virginia Woolf, devido principalmente ao seu caráter ambíguo, que reflete a visão de si mesma e do mundo em que vivia.
“Orlando” apresenta uma dualidade sexual que vai ser a mesma que a própria escritora defendia, como rebeldia ao asfixiante comportamento social da era Vitoriana. Como precursora de um incipiente feminismo, Woolf removeu a mulher do ostracismo social e de seu mero papel de esposa e mãe, reivindicando um espaço para cada uma delas, através da instrução e da criatividade literária.
Em conjunto com “A Room of One’s Own” e “Mrs. Dalloway”, “Orlando” pertence à cosmogonia da incompreendida escritora. Através da totalidade de sua obra, expressa sua particular luta pela igualdade entre os sexos; si em “A Room of One’s Own” reivindicava um lugar para a intimidade da mulher e em “Mrs. Dalloway” rechaçava a tradicional figura feminina esperada pela sociedade, em “Orlando” elege um personagem que durante um período de sua existência vive e sente como os homens e durante outro período o fará como mulher. Sem dúvida, a originalidade do tema demonstra que o personagem, ao adotar um papel masculino, o fará com certa delicadeza e sensibilidade, já que em sua busca pela companheira ideal busca qualidades não valorizadas àquela época dentre as mulheres: a intelectualidade, o caráter e a rebeldia. E, inversamente, ao adotar o papel das mulheres, manifestará um machismo característico contra a sua posição, fazendo aflorar a rebeldia e o inconformismo mais radical.
Pode-se dizer que Virginia Woolf pretendeu valorizar as qualidades femininas do homem e as qualidades masculinas da mulher, construindo uma narrativa a favor da igualdade de ambos os gêneros, destacando o que nos torna similares ao invés daquilo que nos torna diferentes.
Ficção / Romance / Literatura Estrangeira