O livro começa narrando a interminável busca da protagonista, Jennifer Mills, por respostas que esclareçam sua falta de sonhos. Desde pequena, quando fora abandonada na porta da casa de seus pais adotivos, Jennifer não sonhara uma única vez - sempre que fechava as pálpebras, a escuridão era sua única companhia. Mas tudo começa a mudar quando ela consegue emprego em um museu municipal, onde fica encarregada de organizar uma ala com artefatos indianos recém descobertos, dentre eles um magnífico espelho negro. Deste momento em diante, sua vida se transforma em uma corrida contra o tempo. Um novo mundo de seres sobrenaturais se torna visível aos seus olhos, revelando tramas malignas envolvendo pessoas muito mais próximas do que ela poderia imaginar.
Mesmo com uma premissa tão original, a primeira coisa que realmente me surpreendeu durante a leitura foi o modo com que a autora conduziu a obra. Sua escolha de palavras e sentimentos atingiu níveis altíssimos, divergindo do amadorismo que encontrei em algumas partes de “A Mensageira da Morte”. Além da melhora na gramática, as coisas foram dosadas de modo a excluir quaisquer momentos desnecessários para o enredo, o que deixou a obra com fluidez sem igual. Esse é um daqueles livros que te prendem do começo ao fim, sem cansar.
Aliás, falando em prender do começo ao fim, acompanhar a jornada da Jennifer Mills foi, no mínimo, instigante. No primeiro capítulo, quando Adjra deixa uma Jennifer ainda bebê na porta dos recém-casados Mills, minha mente já estava começando a criar mil teorias sobre os motivos do abandono. A cada informação revelada, sugestão lançada aos ventos, minha curiosidade era atiçada com vara curta. Aquilo que imaginei no inicio não chegou nem perto da verdade, e, quanto mais a leitura me "enganava", mais empolgado eu ia ficando. Ah, e isso continuou até o fim! Quando cheguei na última página, o desespero bateu de leve no peito; eu precisava de mais um pouco! Só mais um pouco, poxa...
Mas, mesmo com essa vontade de devorar mais 100 histórias dentro do universo de O Homem no Espelho, reconheço que o ciclo de Jennifer e sua família fora finalizado com Êxito. Vivianne criou um universo vasto, intrigante, mas não o expandiu de forma a ter de explora-lo mais do que foi feito. A mitologia, que á primeira vista julguei superficial, foi se mostrando exatamente o que a trama pedia, deixando baixas as chances de pontas ficarem soltas na conclusão da obra. Quando terminei a leitura, não consegui pensar em uma única pergunta não respondida. Não vi necessidade de uma sequência, mas me apeguei tanto ao universo do livro que, se não fosse volume único, leria as continuações sem pensar duas vezes.
"A Vida é feita de suposições, Jennifer, cabe a nós selecionarmos o que acreditamos ser real e o que são meras fantasias."
Outro ponto positivo foi a criação do universo. Dos seres ao mundo, a escolha de elementos não poderia ter sido melhor. Explorar uma cultura que ainda não é tão representada da literatura nacional foi um golpe de mestre, e, se a autora continuar seguindo essa linha de trazer novos temperos ao cardápio nacional, pode contar com uma legião de fãs para apoia-la em seus futuros projetos.
Comentário Geral: Entre os vários acertos de O Homem no Espelho, alguns se destacaram por evidenciarem o dom de Vivianne Sophie em narrar histórias coesas e completas. A objetividade do enredo e o bom desenvolvimento do plot, combinados á excentricidade da mitologia criada, ajudaram a consolidar a obra como uma fantasia de qualidade para ser notada. Eu não me surpreenderia se, com uma distribuição decente, o livro passasse muitas semanas na lista dos mais vendidos. Altamente recomendado!