Samantha, apesar de sua pouca idade, tinha um excelente cargo na empresa onde trabalhava e um salário que fornecia condições de manter um apartamento de cobertura em um dos prédios mais altos de um bairro nobre da cidade. Tudo ali era luxuoso e a mobília moderna e aconchegante esperava por ela a cada final de expediente. Um filme todo final de noite, com pipoca e sorvete, era regra e naquele dia dos namorados, não seria diferente. Ao menos aquele era o seu desejo.
Entretanto, a sorte nunca fora uma boa companheira de Samantha. Se o assunto fosse amor então, a coisa ficava ainda mais complicada. Seu último namorado, por exemplo, morrera anos antes em um acidente de carro, quando era ela quem estava ao volante, fato que lhe causava culpa e dor, além de fazer com que ela evitasse novos relacionamentos ou novas possibilidades que poderiam evoluir para um relacionamento.
Mesmo em suas vontades mais banais, a sorte insistia em interferir e naquela noite não foi diferente. Samantha optou por deixar o escritório mais cedo e não participar da festa promovida pelos funcionários da empresa para desfrutar da paz de seu apartamento e assistir um filme do Hitchcock ou do Coppola. Porém, ela não contava com uma ocorrência: uma falha elétrica deixaria o prédio inteiro às escuras naquela noite e traria o inesperado para dentro da realidade triste e solitária que ela experimentava por anos a fio.