"Um Homem sem Pátria" exibe a indignação de Kurt Vonnegut com a América contemporânea, combinada com a generosidade e o humanismo característicos de sua obra desde "Matadouro 5" - considerada obra prima do pacifismo a partir de sua vivência durante o Bombardeio de Dresden. Este seu novo trabalho, apresentado, apresentado como coletânea de crônicas, "colagem autobiográfica" ou seleção de "microensaios", é enriquecido com ilustrações assinadas pelo autor, em parceria com o artista Joe Petro III. Reflete seu alerta e desgosto com aquilo que diagnostica como subversão do processo democrático propiciado pelo governo de George W. Bush. Vonnegut denuncia as "personalidades psicopáticas" dessa administração e reflete sobre a corrupção e os recentes escândalos corporativos. Sem sutilezas, mas com altas dosagens de humor e sagacidade, Kurt Vonnegut faz piadas sérias. Enxerga as raízes da infelicidade do indivíduo pós-moderno no declínio das grandes família, observando: "Muito poucos americanos, mas muito poucos ainda têm famílias ampliadas. Os Navajos. Os Kennedys.". Comparando a era do Vietnã à Guerra do Iraque, afirma: "Aquela guerra só transformou milionários em bilionários. A guerra de hoje está transformando milionários em trilionários. É isso que chamam de progresso.". Em "Eis aqui uma lição de texto criativo", provoca os cânones literários ao analisar Hamlet. Afiança que Shakespeare considera Polônio "um tolo e bastante descartável". O autor também exibe sua boa forma quando revela seus entusiasmos : seja pelo blues, por um antigo candidato presidencial, ou quando visita um discurso de Abraham Lincoln denunciando o oportunismo do então presidente James Polk em embarcar na aventura da Guerra do México. Faz convites à reflexão por meio de ironias da História. Um Homem sem Pátria, primeiro livro do autor publicado desde 1999, prova que Vonnegut permanece entre os grandes nomes da literatura americana contemporânea.