Publicado em 1974, primeiramente na Itália e só depois no Brasil (liberado em 1979), Zero é um romance que oferece um retrato pungente de sua época, pois foi escrito pela necessidade de grito diante da Ditadura Militar Brasileira (1964-1985), um período marcado pela censura cultural e o controle dos indivíduos no que eles tinham de mais íntimo, assim como a prisão, tortura e assassinato de pessoas que se opusessem de qualquer forma ao regime.
Extremamente experimental, Zero intenta retratar o caos tanto no conteúdo quanto na forma e isso fica evidente pelos vários tipos de textos que se apresentam ao longo da narrativa: a simulação de recortes de jornal, propagandas, cartazes, inscrições de banheiro, letras de músicas e inúmeros outros tipos de texto vão criando uma paisagem do país e seu contexto histórico-social.
No momento em que este livro que assombrou o Brasil durante a ditadura e continua fascinando as novas gerações pela ousadia e pelas inovações completa 35 anos, trazemos a palavra de Armindo Blanco, jornalista e crítico de cinema, que combateu Salazar, teve de se exilar e aqui morreu: "Espantoso romance. Às vezes, dá a impressão de uma reportagem crua, despojada. Outras, de um filme correndo à velocidade de um milhão de imagens por segundo. Ignácio de Loyola Brandão supera o âmbito do individual para nos dar o retrato de corpo inteiro de uma cidade. De um parque industrial. De um caldeirão fervente de raças. De um país. De um continente. Melhor ainda: de um tempo desvairado, com os homens se transmudando em ratos e perdendo o sentido da própria existência. Ele nos transmite repulsa e fascínio por este universo selvagem, dominado pelo dinheiro e pela solidão e em que mesmo o amor é uma proposta de aniquilação mútua, a fuga à abjeção pela abjeção. A ordem na desordem, as palavras de ordem, a desordem das palavras".