Tamires 02/02/2016As Relações PerigosasComo muitas pessoas Brasil afora, conheci o romance epistolar de Choderlos de Laclos através da minissérie da Rede Globo, depois da repercussão da cena em que Cecília é estuprada por Augusto (no livro, Cécile e visconde de Valmont). Fiquei curiosa a respeito do livro e o consegui de presente do maridão! Acabei não assistindo a série completa, embora tenha gostado do pouco que vi.
As relações perigosas, adaptada como Ligações perigosas, é uma trama que fala de sedução e poder. Uma parcela da aristocracia francesa que investe todo o seu tempo em manipular e destruir reputações de pessoas consideradas mais fracas. Dentre eles, destacam-se a marquesa de Merteuil e o visconde de Valmont, que não pouparão esforços para conseguir se divertir e provar o seu poder em relação a outros três personagens: a Presidenta de Tourvel e os jovens Danceny e Cécile.
O libertino visconde de Valmont ao mesmo tempo em que tenta conquistar a presidenta de Tourvel, uma mulher casada e devota, seduz a jovem e inexperiente Cécile a pedido de sua amiga e antiga amante, a marquesa de Merteuil. Já a marquesa de Merteuil, que se faz de confidente de Cécile, orienta a jovem a não resistir ao sedutor Valmont, mas sua real intenção é que Cécile se perca antes de um casamento arranjado com um antigo desafeto seu. Neste meio tempo, o cavalheiro Danceny e Cécile, apaixonados, tentam viver um romance, apesar de todos os empecilhos e manipulações. Parece complicado, mas é apenas um retrato da nobreza da frança do ano de 1782.
A narrativa é feita em 175 cartas, divididas em quatro partes bem estruturadas. Embora muitos romances epistolares tenham um ritmo arrastado, em As relações perigosas a trama é bastante envolvente e Laclos muitas vezes expõe a mesma situação do ponto de vista de todos ou quase todos os personagens, de forma que apenas o leitor sabe o que realmente está acontecendo. As maquinações da marquesa de Merteuil e os conteúdos de duplo sentido de Valmont, além das referências literárias de ambos são o que há de melhor na história.
“Preciso possuir essa mulher, para evitar o ridículo de apaixonar-me por ela: pois até onde não nos leva um desejo contrariado? Ó delicioso gozo! Imploro-lhe para a minha felicidade e, sobretudo, para o meu sossego. Que sorte a nossa as mulheres se defenderem tão mal! Ou não passaríamos, junto delas, de tímidos escravos”. (p.45 – Valmont sobre a presidenta de Tourvel)
Ainda que os personagens falem muito de amor, acredito que apenas a presidenta de Tourvel possa ter realmente se apaixonado. Embora Valmont tenha demonstrado que poderia estar apaixonado por ela, seus valores não permitiriam que ele mudasse tanto por amor a alguém. Valmont e Merteuil, sobretudo a marquesa, eram pessoas que desprezavam a fraqueza provinda do amor. Para eles, o amor era tal qual uma guerra, qualquer passo em falso poderia fazê-los cair. As Relações Perigosas é uma boa leitura, embora eu não tenha simpatizado com nenhum personagem em especial. Recomendo!
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