Tess 26/01/2022
Não é "hot"! É sobre amadurecer!
Como promessa é dívida, aqui está a resenha do mangá Minha Experiência Lésbica com a Solidão!
Na verdade, eu estava com vontade de ler esse mangá já tem um tempo. Só o título já me despertou muita, mais muita curiosidade de ler! Mas, apesar do nome, não há erotismo na obra, pelo menos, não achei isso. O mangá narra a experiência da própria autora, Kabi Nagata, em uma verdadeira epopéia para lutar contra a depressão, os transtornos alimentares, o sentimento de não pertecimento e sua solidão até ter a ideia de contratar uma garota de programa lésbica para ter sua primeira relação sexual. Isso, aos 28 anos de idade!
Tudo começa quando Nagata termina o ensino médio e com ele, se vão todas as suas seguranças de adolescência para cair de cabeça no incerto e assustador mundo dos adultos. Ao largar a faculdade de artes em poucos meses, Nagata se vê dentro do abismo da depressão, onde seu corpo adoece muito ao ponto dela perder os cabelos, emagrecer absurdamente e desenvolver anorexia. A autora volta para casa de seus pais, se afasta de todos seus amigos e passa a fazer de bicos, mas seus transtornos aumentam tanto que até para trabalhar acaba ficando inepta.
Acontece que a pressão de se tornar uma "adulta convencional" aos olhos de seus pais, acabou sufocando seu desejo de dedicar aos mangás, sua verdadeira vocação. O processo que Nagata leva para entender que seu lugar no mundo é algo pessoal e não um conceito imposto por terceiros é árduo, mas é inevitável não se identificar com muitas das aflições que a autora passa. Afinal, no auge de um estado depressivo, nos afastamos, nos sentimentos insuficientes e não dignos de receber amor e amizade. Nagata, que teve muita dificuldade de abandonar sua visão infantil da vida e da proteção dos pais, acabou pulando várias etapas de socialização com os adultos de sua idade.
Querendo "curar" sua solidão, Nagata parte logo para um programa sexual, que não sai exatamente como ela esperava, mas que a ajuda entender mais a respeito de seu próprio corpo e sexualidade. E sobre sua própria arte, afinal, ela decide por fim registrar tudo o que passou em um mangá, pois sentia falta de ler algo sobre sexualidade no qual se identificasse. Quando seu mangá (que é a primeira versão desse) atinge um certo sucesso com o público, Nagata sente pela primeira vez o "doce néctar" da vida adulta, a sensação de pertencimento a algo ou um lugar, algo que a autora buscava inconscientemente todo esse tempo.
Minha Experiência Lésbica com a Solidão não é uma obra sobre erotismo essencialmente, mas sim como a experiência sexual faz parte do amadurecimento. Quando não sentimos que não nos encaixamos em lugar nenhum do mundo, sentimos que não podemos nos conectar verdadeiramente a ninguém, por isso, nos sentimos bastante solitários. Isso só piora quando seguimos o caminho da arte, afinal, viver da arte é algo bem distante da "vida adulta convencional", algo que foge das expectativas da família que dá sensação de nos pressionar (quando não pressionam mesmo).
Sentimento não de pertencimento a lugar nenhum nos leva a nos sentir estranhos, indignos de amor, solitários. E quando essa solidão atinge o auge, a necessidade de um contato humano é enorme. Porém, apenas o sexo não é o bastante para preencher esse vazio. O que preenche mesmo é a sensação maravilhosa que conseguir atingir o objetivo fazendo o que gosta. E ter o reconhecimento por isso.
Por isso, digo que esse mangá foi um dos melhores que li até hoje. Me identifiquei com muitos pontos da história da Nagata e a sinceridade de sua obra me tocou bastante. É uma obra que recomendo a todos que vivem da arte que se sentem extremante solitários e perdidos nesse mundão dos adultos.
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