Apopo 09/03/2024
Bom, e só...
Primeiro, acredito que o mangá deveria ter avisos de gatilho, ele trata sobre depressão, ansiedade, transtornos alimentares (anorexia e compulsão), e algumas vezes é bem gráfico, mesmo porque se trata de um mangá.
Dito isto, entendo porque as pessoas gostam, a autora rememora e reflete a respeito das fases de sua vida em que teve que lidar com todos esses transtornos, e fala sobre momentos que a ajudaram a melhorar. Particularmente me identifiquei com algumas coisas, refleti sobre outras e, para mim, esse é o encanto da narrativa. Não é uma história muito mirabolante e firulenta, a autora nos narra de forma bem objetiva as coisas pelas quais passou, situações estas que são comuns a muitos de nós, em maior ou menor grau, isso causa uma identificação e aproximação, nos propõe a reflexão e torna a leitura interessante.
Além disso, como uma assídua consumidora de mangás, já notei, e isso é algo fácil de notar para qualquer um que tenha o mínimo de contexto sobre a cultura japonesa, que eles tem muita dificuldade em lidar com questões de saúde mental, é uma questão cultural, lá, ainda é muito forte a ideia de que problemas psicológicos podem ser tratados com pura força de vontade. Por isso me surpreendeu a consciência que a autora tem sobre suas próprias questões, ela retrata suas vivências em um nível de entendimento que raramente vejo em mangás.
Porém isso nos leva ao ponto que me desagradou, senti que as soluções para todas as questões dela foram muito simples, veja bem, os problemas que ela retratou não são nada simples, para se ter uma ideia, a certa altura ela retrata um episódio em que estava saindo para trabalhar e desabou no chão e simplesmente não conseguiu mais se mover, tanto que não conseguiu ir trabalhar, isso por causa da depressão. Acredito que qualquer uma vai concordar comigo que isso parece um nível bem profundo de depressão, certo?! E esse é só um dos momentos e problemas retratados, existem muitas outras questões.
Por isso, na minha opinião, a reabilitação deveria ter sido tratada com um pouco mais de cuidado, a solução deveria ir um pouco além de uma epifania, que para mim foi o que pareceu que aconteceu.
No entanto, me parece que a "solução fácil", é um sintoma da falta de maturidade da cultura japonesa em tratar sobre saúde mental, portanto consegui relevar essa falta em certo grau e achei um bom mangá, mas só.