@fabio_entre.livros 12/06/2024
Sem Jim Carrey
"Uma peculiar máscara de origem e poder desconhecidos é encontrada e confere a todos aqueles que a utilizam as habilidades ilimitadas de um personagem de desenho animado". O início da sinopse evoca imediatamente o filme homônimo de 1994, estrelado pelo Jim Carrey, levando o leitor a esperar as divertidas confusões do atrapalhado Stanley e seu alter ego rodopiante de terno amarelo e cara verde. Mas o caminho aqui é mais sombrio. Ou mais "dark", para fazer jus à editora da publicação: a Dark Horse, que geralmente publica quadrinhos de tom mais adulto, à semelhança do selo Vertigo, da DC Comics.
Em vez de uma espécie de (anti-)herói cartunesco que combate o crime e outras situações perigosas através do humor pastelão, o Máskara das duas primeiras minisséries reunidas aqui (e anteriores ao lançamento do filme), ainda é cartunesco, mas o humor é negro, e a violência gráfica não é suavizada ou camuflada: ao contrário, há momentos em que o sangue encharca as páginas. Nesses aspectos, ele lembra o Deadpool, da Marvel. O personagem é incontrolável, invulnerável, vingativo e cruel, não hesitando em matar seus desafetos (sejam da polícia, da máfia, ou um simples caloteiro) quando esses estão em seu caminho.
Ao longo das histórias, a máscara passa por várias mãos - ou melhor, rostos - a começar por Stanley; mas este definitivamente não é o Stanley do Jim Carrey: é um sujeito mesquinho e neurótico cuja posse da máscara, felizmente, é bem curta.
Pouca coisa do conteúdo dessas histórias foi aproveitado no filme, como a relação do Máskara com a máfia e a presença do tenente Kellaway, além de uma ou outra situação adaptada (como a sequência dos mecânicos na oficina ou a dos bichos e da metralhadora feitos de balões). Também há a presença recorrente do Walter (aquele capanga que parece cruzamento de Hulk com Tropeço e que aparece na série animada).
Um detalhe interessante é que a terceira minissérie, lançada após o filme, muda drasticamente do tom underground das duas primeiras para um estilo mais mainstream e "ingênuo", prenunciando a vibe da série animada, de 1995. Tanto o roteiro simplista de John Arcudi quanto o desenho mais coloridão e "espaçoso" do Doug Mahnke, enfatizam essa transição do personagem para a abordagem mais cômica e pop que se estabeleceria a partir de então. Outra observação interessante é que em nenhum momento ele é chamado ou chama a si mesmo de "Máskara"; todos o chamam de "Cabeção".
Tanto o filme quanto o desenho animado estão entre as boas lembranças da minha infância, de modo que gosto do Máskara em quase todas as versões (a exceção é aquela atrocidade que foi o filme de 2005). Essas histórias mais adultas do personagem, longe de me desiludirem, como parece ter sido o efeito em outros leitores, só me fizeram gostar ainda mais do Cabeção.