Leitora Viciada 22/08/2012Não tenho o costume de ler Ficção Cristã nem sou evangélica, por isso não sou especialista em avaliar este tipo de obra no sentido religioso - e nem pretendo. Portanto, minha avaliação é de uma simples leitora que admira uma boa história, sem preconceito por nenhum gênero literário. Portanto, não avaliei o livro como evangélica e sim como leitora de ficção.
Após ter em mente que este livro é voltado ao público jovem cristão, iniciei minha leitura, pois acredito que sempre devo estar ciente do público alvo. Somente assim minha visão crítica funciona.
Renata Martins é a segunda escritora cristã que eu conheço e gostei de suas ideias, do enredo do livro e da forma como ela desenvolveu conflitos e personagens.
O livro possui ótima qualidade gráfica e a capa é muito bonita, mas encontrei falhas na diagramação: muitos hifens que não deveriam existir.
A Ovelha e O Dragão - Os Escolhidos possui boa estruturação. Possui um sumário e é dividido em dez capítulos mais o prólogo e o epílogo.
A partir do breve prólogo, o leitor é apresentado às personagens principais que narram todo o livro. Em primeira pessoa acompanhamos distintos, ou melhor, opostos pontos de vista em cada situação criada pela autora. Todo capítulo possui um título próprio e é dividido em duas partes: a primeira parte sempre nomeada "A ovelha narra" e a segunda "O dragão conta" – até pela forma de cada um narrar a história. Embora ambos narrem informalmente, com expressões próprias e gírias, Raquel é mais delicada, enquanto Cristiano é mais cínico e despreocupado em contar a sua versão.
Esta manobra da autora possui prós e contras. Enquanto a narrativa em primeira pessoa nos prende ao que apenas o narrador descreve e percebe, toda situação importante possui dois pontos de vista diferentes.
Em alguns momentos isto é interessante: comparar os pensamentos, sentimentos e atitudes dos dois e tecer a sua própria visão sobre os dois. Eu gostei desse efeito em diversas partes do livro, pois às vezes ler a versão contada por um e depois pelo outro fica descontraído e até engraçado, principalmente devido a encontros e desencontros.
Porém em outros momentos a repetição enfraquece o ritmo da narrativa, causando cansaço. Nas situações em que ambos pensam e se sentem da mesma forma, não existiria a necessidade da mesma cena ser contada novamente minuciosamente. Teria sido melhor, em alguns casos a autora mostrar outra cena diferente. As brechas, ou seja, situações onde apenas um deles se encontra e não se repetem são mais válidas.
Aprovo o uso de pontos de vista e narradores se alternando, mas nem sempre repetindo todos os fatos. A autora deveria mesmo estruturar os capítulos assim, só acho que sempre com a apresentação de um novo acontecimento, com exceção de algumas cenas.
Ao contrário do trabalho da outra escritora gospel que conheço, Renata não é implícita nem discreta em pregar a palavra cristã. Ela utiliza da ficção, do início ao fim para apresentar a visão evangélica a partir do ponto de vista da protagonista feminina, a "Ovelha" a personagem Raquel. Então quem não gosta de história cristã e tiver preconceito irá se incomodar com a narrativa da heroína e até mesmo com o desenrolar da história. Por isso, recomendo a leitura para pessoas que sejam do público alvo: jovem cristão; ou que possuam a mente aberta para uma ficção religiosa. Não adianta iniciar o livro com preconceitos se você não for evangélico.
Independentemente da religião da pessoa, esta é uma história de ficção jovem bem desenvolvida e assim como já mostra o título, o assunto principal são os opostos!
"Os opostos se atraem” – esta famosa frase é perfeita para descrever o ponto central do livro.
Raquel, a "Ovelha" possui seu oposto. Uma personagem totalmente contrária a ela, seja na criação, nos valores, na forma de vida, na religião ou nos pensamentos.
Este oposto é o "Dragão", Cristiano. Este outro protagonista divide a narrativa do livro com ela.
Ao mesmo tempo em que são opostos, existe um fator curioso no livro: eles são antagônicos, rivais e ao mesmo tempo... apaixonados!
Este é o ingrediente principal do lado romântico da história. Eles são inimigos, diferentes e se amam. Não querem se amar (cada um com seus motivos), mas é impossível resistirem ao amor tão arrebatador e inexplicável.
Raquel possui vinte e três anos de idade e é filha de evangélicos. Seu pai é o pastor da igreja que frequentam e Raquel sempre esteve envolvida em todas as atividades espirituais da comunidade envolvida. Além de possuir fortes laços familiares, ser uma pessoa ética e de palavra, uma crente assumida e orgulhosa disso, ela é uma moça muito estudiosa e inteligente. Formada em Jornalismo, ela trabalha como repórter para um jornal e possui excelentes amizades na igreja, além de sua melhor amiga Ana Luíza, com mais senso de humor que ela.
E o importante: ela está quase noiva de Felipe, rapaz lindo, crente e muito prestativo, além de boa pessoa, e que está sendo preparado para ser pastor na mesma igreja que seu pai. Eles se conhecem desde criança e embora Raquel não tenha sentido "aquele frio na barriga", ela gosta de Felipe, e aceitou o pedido de namoro na forma de corte, onde beijos e abraços íntimos não são permitidos antes do casamento.
Talvez algumas pessoas pensem que isso é antiquado; que jovens atualmente não fazem esse tipo de escolha. Pois eu acho muito preconceito pensar dessa forma, enquanto muitos escolhem seguir este caminho; não por obrigação e sim por escolha e acho que toda decisão íntima e pessoal deve ser sempre respeitada, assim como a opção sexual de cada indivíduo.
Pessoalmente, Raquel não me cativou como personagem, por ser perfeita demais. Não questiono suas escolhas, até as admiro; só achei que além de bondosa, compreensiva, inteligente, honesta, forte, educada, corajosa, etc e etc, ela também é linda, e elegante. Não possui nenhum defeito. Também achei as expressões de crente utilizadas por ela muito repetitivas, principalmente em pensamentos quando se sente errada ou caindo em tentação.
Já Cristiano é muito mais interessante, até a sua narrativa é melhor, porque é mais descontraído, até engraçado - às vezes desesperado.
A autora foi ousada, sendo Cristã, em tocar num assunto que talvez seja chocante ou tabu para muitos evangélicos: Cristiano por impulso e influência do pai, sem reflexão nem Fé alguma, faz um pacto com uma seita satanista em troca de sucesso para seu empreendimento novo, deixado pelo pai em suas mãos.
E nesse ponto a narrativa muda completamente. Ele debocha de todos os princípios cristãos, da Fé, de Deus e tudo o mais envolvido. Ele não acredita em nada e é inconsequente.
Aí talvez seja a vez dos cristãos se ofenderem com o livro através das blasfêmias ditas por Cristiano e seus atos. E repito que todos os leitores devem deixar o preconceito de lado e aproveitar a boa história e comparar as narrativas de Raquel e Cristiano.
Cristiano é filho de um ex-senador, de família rica, pais ausentes. Possui 25 anos de idade, não tem religião e apenas se preocupa em aproveitar o dinheiro e curtir a vida, com festas, roupas caras, carrões e mulheres. Formou-se em Administração para auxiliar o pai nos empreendimentos imobiliários, onde investiu seu dinheiro oriundo da vida política.
Em parte, Cristiano é vítima; por outro ângulo, imprudente e irresponsável. Como eu escrevi anteriormente, o livro é totalmente recheado de opostos. Em alguns momentos o leitor tem pena de Cristiano, já em outros, desprezo.
Para agradar o pai ele não o questiona e entra na seita satânica, faz um pacto com um demônio poderoso para assegurar o sucesso do novo negócio e agora, literalmente, a vida de toda a família depende de Cristiano realizar a sua parte no acordo, que é entrar na igreja e seduzir e desonrar Raquel perante a comunidade evangélica e espalhar desavenças entre os fiéis; é abalar a Fé de toda a igreja e destruir a honra do pastor, pai de Raquel.
Raquel e Cristiano se apaixonam e a história começa!
Minha crítica fica para o fato de não ser uma leitura independente. O final não existe, ou melhor, você precisará ler a continuação. Não sou contra trilogias ou séries, e adoro encontrar ganchos e problemas ainda não solucionados num volume e que serão desvendados e mostrados no seguinte, porém acho que um livro deve sempre ter início, meio e fim, pelo meno o primeiro volume sim.
Um livro que traz um tema pesado numa narrativa muito leve e simples; traz também várias mensagens, não apenas de Fé, mas de bons valores que qualquer pessoa deveria possuir.
Um romance impossível, literalmente um amor que jamais deveria existir, pessoas que provavelmente nunca se apaixonariam - essa é a parte mais interessante do livro: o amor proibido. Como uma crente poderá amar um satanista enviado para destruir a igreja de seu pai?
Muitos conflitos surgem no livro ligados à luta do bem contra o mal ou às dúvidas dos jovens apaixonados.
O sobrenatural está presente, através de demônios interferindo na vida das pessoas.
Além dos diferentes pontos de vista dos protagonistas, o leitor pode ter mudanças de opinião e pensamento em relação a eles, principalmente sobre Cristiano: às vezes vilão, em outras o mocinho e ainda, a vítima - isso a autora desenvolveu muito bem! Enquanto Raquel é uma heroína previsível e inocente, Cristiano é o fator misterioso, tanto por sua personalidade quanto por sua situação que parece sem saída.
Parabéns a autora por escrever Ficção Cristã ousada e trazer um romance complicado - impossível não torcer pelo casal!
No próximo volume espero encontrar uma Raquel firme em sua religião, porém menos chata e um Cristiano arrependido e mudado, mas sem perder seu charme.
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