Dhiego Morais 18/03/2015A BatalhaDepois de um tempinho sem me aventurar pelas terras do Condado, decidi (ou melhor, não resisti) pegar A Batalha para ler, mesmo estando empacado em outras leituras (daqueles leitores que leem um já pensando/namorando o próximo). É... não poderia ter feito coisa melhor!
As aventuras agora têm como ponto central a cidade de Pendle, que, aparentemente está infestada de bruxas! Mais uma vez descobrimos que isso já foi um dia um trabalho do senhor Gregory, e que ele havia deixado para trás. Desta forma, temos Thomas, o Caça-Feitiço e Alice viajando para o covil das bruxas.
O Caça-feitiço sugere que Tom busque os baús que a sua mãe havia deixado a ele de herança, para que enfim descobrissem o conteúdo, afinal, algo de útil deveria haver ali, e poderia ser a resposta para a batalha que enfrentariam em Pendle contra as bruxas. Mas quando Tom chega à sua antiga casa, ele descobre que alguém já havia chegado antes e sequestrado o seu irmão, a esposa dele e sua filhinha. Os baús não estavam no quarto também.
Não restava opção: era chegada a hora de combater o mal em Pendle.
Chegando lá, eles descobrem que a região estava mais afetada pelas bruxas do que eles imaginavam. Em Pendle existem principalmente três covens de bruxas: as Malkin, as Mouldheel e as Deane, sendo as Malkin de longe as mais perigosas, vivendo parte na Torre e outra em Goldshaw Both. O boato de que os três covens estariam se reunindo para invocar um mal nunca antes visto foi o principal fator que os levou até Pendle.
John Gregory e Tom se hospedam na paroquia do padre Stocks, um antigo aprendiz do Caça-feitiço; um dos que se formara, mas preferira seguir a carreira religiosa. Alice já havia partido antes para tentar descobrir o que se passava por lá, entretanto o Caça-feitiço mantinha um olho cá e outro lá, quando se tratava da jovem bruxa, já que ela era metade Malkin e metade Deane, e ambos os covens governavam entre sombras a velha Pendle.
Comparado ao livro anterior, O Segredo, este foi muito mais interessante e agradável de ler, pois a leitura flui com extrema facilidade. Talvez isso tenha sido possível pelo avanço das personagens e da escrita de Delaney. Se tomássemos O Aprendiz e A Batalha em mãos separadas, não apenas a diferença na quantidade de páginas chamaria a atenção, como também pela qualidade em que a série alcançou, saltando de algo infantil para uma obra tão mais bem adaptada ao público mais velho. Delaney foge do mal da “queda literária”, onde alguns autores despencam na qualidade de seus textos ao produzirem séries longas demais.
Retornando ao enredo, acompanhamos o desaparecimento de Alice, que fora capturada por um dos três clãs, sendo posta à beira da morte. Ao mesmo tempo, Thomas conhece Mab, uma bruxa que terá um papel extremamente importante em todo o livro.
Em suas aventuras em Pendle, Thomas se vê diante da crueldade das bruxas que dominam a cidade. Não existem limites para o mal que podem causar, e não se importam de exterminar uma a outra se isso significar chegar aos seus próprios objetivos. Pendle é efetivamente um dos lugares mais perigosos em que Tom já pisara, pois para cada lugar que ele fosse, existiam bruxas ao redor, e, caso não, elas sempre estavam de olho, valendo-se de espelhos e lagos para a cristalomancia.
Neste volume o Caça-feitiço se ausenta mais do que o comum, chegando a ficar vários capítulos sem descobrirmos por onde aqueles pés calejados estariam passando (o que me lembrou muito do sumiço maroto de Gandalf, em O Hobbit). Por isso, A Batalha é ainda mais focado em Tom e Alice do que o normal.
Almejando descobrir mais sobre o que se passava na Torre Malkin, e tentando separar os covens (ainda que os Mouldheel não tivessem se aliado ao Malkin e aos Deane), o padre Stocks e Tom tentam buscar a ajuda do Magistrado; e para isso, eles se hospedam na majestosa residência do nobre, em Read. Lá, Tom conhece Wurmalde, a governanta com ares de bruxa.
À medida que o tempo passa, fica evidente de que existe uma pessoa tentando unir todos os três covens para invocar o Maligno, o Diabo para a terra. Torna-se de extrema necessidade que eles impeçam isso, pois a ideia do Mal Encarnado caminhando pelo mundo poderia significar a desgraça de toda a humanidade.
Mesmo com dezenas de bruxas sanguinárias, versáteis nas artes de sangue, magia de ossos e cristalomancia, Delaney surpreende apresentando Tibb, uma criatura horrenda, nascida de magia negra e dotada de uma esperteza sobrenatural. Entre as bruxas, existe Grimalkin, a assassina, que se diverte em retalhar as suas vítimas usando tesouras afiadíssimas. Joseph Delaney possui uma mente maligna para a criação!
“— No Halloween passado, as Malkin fizeram uma trégua com as Deane, e os dois covens se juntaram para criar o Tibb. Puseram a cabeça grande de um javali em um caldeirão e a cozinharam. Ferveram o animal para eliminar toda a carne e o cérebro, reduzindo o cozimento ao caldo do músculo. Cada membro dos covens cuspiu dentro do caldeirão treze vezes. Então, alimentaram uma porca com o caldo. Mais ou menos sete meses depois, elas abriram a barriga da porca e saiu de dentro o Tibb. Não cresceu muito desde então, mas está mais forte do que um homem adulto.”
O mais satisfatório na escrita de Delaney, aproveitando a deixa, é justamente a sua habilidade descritiva. As cenas sombrias e regadas a sangue são sempre bem entrelaçadas e transcritas. O autor não poupa esforços na hora de chocar o público com o terror das mortes e de suas criaturas.
Traições e muitas revelações transbordam pelas páginas. Observamos Thomas questionar os seus ensinamentos e a sua própria honra. Também vemos os resultados de traições e fracassos, bem como as consequências para o Condado.
“Naquele momento, desejei nunca ter visto o Caça-feitiço e nunca ter me tornado seu aprendiz. Sentei-me na cela e chorei.”
Guerra, lutas, sangue, mortes e batalhas que unem o medieval e o moderno tão característico de Delaney. O autor soube tirar o fôlego nas últimas páginas, criando um final desesperador!
Lia Wyler (a tradutora de Harry Potter) mantém a qualidade da tradução, assim como a Bertrand continua com as artes de capa e diagramação estonteantes! “As Aventuras do Caça-feitiço” é a típica série que dá orgulho de ter na estante.
Ainda não leu? Então corre lá! Todavia... “Cuidado: não deve ser lido à noite!”.
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