Denise 11/08/2023
A solidão fora dos bosques
Maurice foi uma das minhas melhores leituras desse ano. A escrita é fluida e facilmente expressa a ideia do autor nos pensamentos e ações dos personagens. Para mim, é inconcebível que esse livro tenha sido escrito na década de 10, levando em conta os temas que o livro aborda, como a homossexualidade, a religião e as desigualdades de classe, e da forma como aborda isso.
A obra contempla a solidão de Maurice em ser um homem gay na sua época, sentindo de fora da "normalidade" que o rodeou a vida. Ele é desenvolvido como um jovem de características comuns a sua época, que foi forçado a aceitar o fato de que seria subjugado em toda a sociedade inglesa por ser gay. Em muitos capítulos dedicado a essa sensação de restrição ou delito, contemplamos a criticidade da situação: Maurice seria considerado um enfermo, um criminoso onde quer que fosse em seu país. E, quanto mais lutava em tentar esconder sua homossexualidade, mais tinha ciência disso.
Além disso, o romance engloba embates religiosos no que diz respeito a relação entre pessoas de mesmo gênero na época. A falha da Inglaterra em oprimir e não aceitar a "natureza humana" e a liberdade romântica e sexual é escancarada na história.O livro encara a rejeição de homossexuais por grupos religiosos como um problema, e mostra como isso afetou na vida de Maurice.
A verdade é que o jovem não escolhera estar contra "toda a sociedade", apenas teve de aceitar essa sua posição, pois se tratava de quem ele era. Teria que destruir suas visões enraizadas sobre si mesmo ou ser destruído por elas. Doravante, Maurice muda e amadurece ao longo do tempo. O coração partido e a esperança de um novo amor as vezes pareceram nebulosas ou tempestuosas em sua vida, fazendo-o a pensar até mesmo em suicídio, tamanha a crueldade de da sua solidão.
A obra termina com um final feliz, o que me surpreendeu muito. Para a época, isso poderia indicar uma maneira de influenciar "crimes ou pornogr4fi4", ou qualquer coisa que sociedade inglesa dissesse, que indicasse a homofobia presente em sua cultura. Ademais, o livro, querendo ou não, é um história de sua época, há muitos comentários que indicassem que a questão do papel da mulher se limitasse à vida caseira e à reprodução.
Essa foi, com certeza, uma das melhores leituras que já fiz, tanto pelo tema abordado, quanto pela maneira como ilustrada ele na época em questão. E.M. Forster foi cirúrgico