Maurice

Maurice E. M. Forster




Resenhas - Maurice


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bizis 16/03/2021

Dedicado a um ano mais feliz
Esse livro é um retrato maravilhoso tanto dos desejos dos homens homossexuais no começo do século XX, como das relações de classes ainda existentes no período. O romance não é o mais meloso que existe e considero até rápido demais, mas ainda consegue transmitir diversas esperanças e críticas
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Victor Dantas 10/02/2021

A solidão do homem gay e o direito de existir. #38
Escrito entre 1913-1914, e publicado postumamente em 1971, “Maurice”, obra do escritor inglês E.M. Forster (1879-1970), é um dos romances precursores da literatura ocidental no que diz respeito ao tema da homossexualidade.

O nosso protagonista, Maurice, vive na Inglaterra em meados do século XX, em uma sociedade que estava no auge da expansão econômica, e concomitante engessada em valores liberais, puritanos e patriarcais.

Tais valores fizeram parte da criação do Maurice, infância e adolescência, onde frequentou escolas preparatórias dominicais e internatos masculinos.

Uma grande mudança ocorre na vida Maurice quando ele ingressa em Cambridge. Confronto consigo mesmo. Confronto com suas crenças. Desejos.

Em Cambridge, Maurice conhece Clive Durham e logo se tornam amigos. Mas, ao passo que se tornam íntimos e confidentes, o sentimento de amizade vai dando lugar a um sentimento de amor, desejo, paixão.

A relação dos dois vai se fortalecendo aos poucos, e durante esse processo tanto Maurice quanto Clive começam a identificar seus desejos e buscam a compreender a natureza destes.

Para Maurice, o que ele sente por Clive é manifestado naturalmente, faz parte do que ele é. Já para Clive o que ele sente por Maurice é uma fase, uma paixão específica, em um momento específico.

A relação dos dois dura alguns anos até que o rompimento acontece por parte do Clive que acredita que sua paixão pelo Maurice se dissipou, e restou apenas o sentimento de carinho e parceria. Amizade. Isso se deve ao fato de Clive ter conhecido uma mulher, na qual, ele acredita que finalmente o amor verdadeiro se revelou. O amor heterossexual.

A reação do Maurice diante da situação é totalmente passiva, ele se submete a permanecer na vida do Clive apenas como amigo, mesmo sabendo que o ama. Além disso, passa acreditar que assim como o Clive se “encontrou”, ele também pode se encontrar.

Sendo assim, Maurice decide iniciar uma jornada em busca da “cura gay”. Procura ajuda médica, hipnose, e alternativas que conduzam ele para a vida ideal feliz que seu amigo Clive alcançou.
Ele acredita que seus desejos e sentimentos são escolhas racionais, portanto, ele pode mudá-los, corrigi-los.

Mas será mesmo que seus desejos e sentimentos são escolhas racionais?
Quais serão as consequências disso?

IMPRESSÕES PESSOAIS

O romance Maurice é simbólico e representativo para a comunidade gay em vários aspectos. Consegue expressar a realidade gay até hoje.

Os principais temas que a obra aborda são:

1) DESEJO e SENTIMENTOS

É fato, é indiscutível, que o ser humano é feito de desejos e sentimentos, principalmente no campo afetivo e sexual. No entanto, quando isso é associado a uma sexualidade não-padrão, no caso, a homossexualidade, tudo muda.

Para o homem gay, desejar e sentir está direta ou indiretamente ligado com à vergonha, à desaprovação, ao medo, à perseguição, à violência... à morte.

A nossa experiência de vida enquanto homens gays é totalmente influenciada por esses processos de apagamento e negação quanto a nossa sexualidade, e principalmente, quanto aos nossos desejos e sentimentos.

Somos obrigados a acreditar que nossos desejos e sentimentos são impuros, vergonhosos, anormais, portanto, sufocamos, reprimimos e anulamos os nossos desejos e sentimentos em diversos contextos para que a nossa existência seja garantida.

Na obra tanto Maurice, quanto Clive convivem com essas angústias diariamente.

“Não se enganava, apesar das rédeas que mantinha sobre a carnalidade. Podia controlar o corpo, mas era sua alma maculada que zombava de suas preces” (pg. 78).

2) A SOLIDÃO DO HOMEM GAY

Uma vez eu assisti uma palestra no TED x Talks de um pesquisador e ativista gay inglês, e em um determinado momento ele falou “Todas as crianças gays nascem em ilhas”. Nunca vi tanta verdade em uma frase.

Independente se a nossa família acolha ou não a nossa sexualidade, a solidão será sempre parte da nossa existência enquanto homens gays.

Desde o nosso nascimento até nossa vida adulta, estamos sempre em busca de aprovação. Quando somos gays, isso se intensifica, pois além da busca pela aprovação, buscamos também o pertencimento, e esse pertencimento nunca está fora do meio gay.
Basta olharmos a nossa volta.

Existem bares gays e bares de héteros, existem baladas de gays e baladas de héteros, existem bairros gays e bairros de héteros, e isso se desdobra em tantos outros campos.
Guetos.

A solidão generalizada que nós experienciamos, faz com que a gente sempre busque referências e contextos gays para nos sentirmos minimamente acolhido.

Em “Maurice”, vemos a condição de um homem gay solitário, e que infelizmente na época em que se passa a história, referências e contextos gays eram inexistentes. Maurice é obrigado a lidar consigo sem nenhum apoio de semelhantes.

“Não tinha um Deus, não tinha um amor – os dois incentivos habituais à virtude. Mas lutava dando as costas para o conforto, pois a dignidade assim o exigia” (pg. 149).

3) O DIREITO de EXISTIR

Há uma diferença significativa entre viver e sobreviver. Na maioria das vezes, nós homens gays não vivemos, nós sobrevivemos. E para sobreviver nós temos que renunciar a nossa identidade, renunciar a nossos desejos, sentimentos, renunciar o eu por contra do outro.
Perdas.

“Dedicado a um ano mais feliz” essa é a frase que o E.M. Forster insere na dedicatória do livro. Com essa citação o autor defende se posiciona em defesa da existência do homem gay, da vivência do homem gay, e sobretudo, da felicidade do homem gay.

Forster acreditava que poderia sim, no meio de tanto ódio, violência, intolerância, existir a possibilidade de um homem gay viver, sentir e experienciar o amor, o afeto, a felicidade.

E talvez seja por esse motivo, que “Maurice” seja uma obra simbólica e representativa para nossa comunidade gay, pois, diferente de outras histórias sobre a homossexualidade que foram escritas no século XX, em “Maurice” o nosso protagonista consegue resistir e enfrentar os obstáculos, e o desfecho não de sua história não é uma tragédia.
É um futuro feliz. Paz.

Maurice não precisa mais sobreviver. Maurice agora vive. Existe.

A escrita do E.M. Forster é singela, a forma como ele apresenta as cenas e os diálogos para o leitor, bem como a descrição dos personagens é muito visual.

O livro é narrado em 3ª pessoa, mas isso não interfere na nossa conexão com os personagens, pelo contrário, conseguimos absorver o enredo com mais precisão, em razão da narrativa circular que o autor utiliza no texto.

Além disso, o autor consegue fazer com que o leitor identifique os sentimentos do Maurice mesmo a história sendo contada em 3ª pessoa, e isso torna a história mais cativante.

Por fim, é uma obra ímpar e muito relevante para o movimento LGBT na literatura, e que para nós leitores lgbt, é uma obra que vai tocar em pontos muito específicos de nossa vivência.
E caso você não for um leitor lgbt, “Maurice” consegue aproximá-lo dessa realidade.

A edição conta com um prefácio belíssimo de Ronald Polito e nota final do próprio autor.

Deixo meu apelo às editoras brasileiras para que publiquem mais obras de E.M. Forster.

Boa leitura.
Thales 10/02/2021minha estante
Resenha não só brilhante como muito necessária, Victor. Parabéns!


Victor Dantas 10/02/2021minha estante
Obrigado Thales! :)


Débora 10/02/2021minha estante
Belíssima resenha, Victor!!!


Caroline 10/02/2021minha estante
Que resenha perfeita!


Victor Dantas 10/02/2021minha estante
Obrigado Débora e Caroline :)


Clara 24/09/2021minha estante
Essa resenha está perfeita.


Kelve 20/12/2021minha estante
Concordo plenamente com Thales. Meu marido disse"menino que ele escreveu foi com vontade" kkkkkkk. Uma resenha absolutamente necessário, para um livro mais necessário ainda, tantos nos meados do século XX, como agora no século XXI. Onde a solidão gay aumenta mais a cada dia que passa, o número de homens gays que querer casar e constituir uma família caiu muito em comparação aos que seguem para as ilusões de que viver solteiro, de padrões, e na promiscuidade é melhor. Infelizmente, essa é a realidade da comunidade, espero verdadeiramente que isso mude.




Rômulo 05/02/2021

Atemporal
Uma romance inspirador para nunca se perder a fé no amor; ele sempre vai vencer no final, não importa as circunstâncias nem o tempo que passar.
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Lara 02/01/2021

um clássico bastante polêmico por trazer protagonistas LGBT e ter sido escrito em uma época onde tais personagens deveriam ter um fim trágico nos romances. eu adorei a leitura e o autor foi muito feliz em sua narrativa, não ficou chato e abordou diversas questões não se detendo somente no assunto sexualidade. o melhor que li do autor até agora
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stormsetwinds 18/12/2020

Uma leitura única
O que dizer desse livro que inicialmente li meio dispersa e logo me apaixonei? As notas finais são muito interessantes para compreender o carinho do autor pela obra além da indagação acerca da dificuldade de publicação do livro ampliada pelo fato do mesmo ter um final feliz. E esse Maurice Hall imperfeito, falho, talvez pouco digno de "identificação" nos tempos modernos, mas incrivelmente humano e palpável?
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Vieira 15/12/2020

''Eram deles o ar e o céu ingleses, não dos tementes milhões que possuíam caixinhas abafadas no lugar da própria alma''
Doce surpresa. Achei que por ser um livro antigo, a leitura seria bastante cansativa. Ledo engano. Tudo flui muito bem, os diálogos são memoráveis e tocantes e os protagonistas são tão interessantes. Maurice me fascina com sua honestidade consigo próprio, Clive me irrita e Alec é tão adoravelmente atrevido. Por fim, a leitura me cativou. Certamente, está entre meus livros favoritos da vida.


''Não pretendiam causar nenhum mal ao mundo, mas, se ele os assaltasse, haveriam de castigá-lo, precisavam estar a postos e então atacar com toda a força, precisavam mostrar que, quando dois se juntam,as maiorias não triufam''
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CoolGabe642 08/12/2020

Amor e homossexualidade: união marcada para o fim trágico?
É a punição que se segue ao coração fervente (e homossexual). Esse seria o lema dos personagens principais desse livro, Clive e Maurice. Mas essa é apenas uma das teorias sobre amor e contato construídas ao longo do livro.

E. M. Forster desempenha um trabalho formidável ao fotografar toda uma composição da sociedade elite da Inglaterra no início do século XX. Desempenha um trabalho ainda mais brilhante ao tecer reflexões, críticas e mesmo teorias sutis sobre como tal sociedade delimita as possibilidades de vivenciar amor, prazer e contato, em especial no caso da homoafetividade entre homens.
Sem necessariamente se submeter a aprofundar certas questões ao se firmar, na maior parte do tempo, junto do ponto de vista egocêntrico de um personagem hora odiável, hora lamentável e em muitos momentos passível de empatia, ainda assim o autor registra relações políticas, morais, culturais, religiosas e de relação entre gêneros que atentam para o quão pouco certos debates evoluíram ou mudaram desde sua época.

Assim, E. M. Forster coloca em suas mãos algo próximo de um ensaio sobre a vivência homossexual e do amor numa sociedade de aparências e de valores conservadores gravados em pedra ao permitir acompanhar os pensamentos de Maurice em sua jornada de contato com o outro a ser desejado assim com em sua jornada para descobrir o que ele deseja de e para si mesmo.

[A partir daqui, possivelmente, há SPOILER]

Ainda que tomados por uma visão bruta, cínica e elitizada do mundo através de grande parte da trama, o resultado final que surpreende ao responder a pergunta-título com uma resolução um tanto otimista, ainda assim, não deixa de ser pronunciado por uma reconstrução vagarosa de caráter do protagonista Maurice, e por consequência, da tessitura sobre amor que ele canta ao leitor.

Terminamos a aventura de autoconhecimento com um gesto arrasador de si encontrado na força do desejo que foi colocado de lado ao longo de toda uma vida. E que gesto mais destruidor do que se sabe sobre si do que se conhecer? Maurice reconhece as possibilidades de quem é ao integrar a parte que ele renegara. Nada de punição para a homossexualidade, ela é o elemento constituidor de sua personalidade que faltava ser reconhecido para que ele fosse inteiro.

Assim, ainda que com a pitada agridoce de percebermos que se reconhecer por completo é também reconhecer certos embates com a sociedade e ter de encontrar meios para enfrenta-los, Maurice nos conta que sem um pedaço do quebra-cabeça que nos revela nossa imagem não podemos começar a desvendar outros quebra-cabeças como o amor.
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Giovanna1599 08/11/2020

nem sei o que falar, me surpreendeu muito, muito rápido de ler e incrível
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EuGabes 07/11/2020

quando o amor vence.
Só de pensar que o Forster deixou esse livro guardado por anos para ser publicado na ?hora certa? já faz Maurice ser um clássico instantâneo, a discussão sobre o amor que nasce em entre dois homens, a tentativa de entender e mudar o que sente, o coração partido, tudo é preciso e bem verdadeiro. O livro escrito em 1913 é ainda atual mesmo com todos os avanços que tivemos a respeito da homossexualidade, a falta de uma visão feliz entre um casal gay ainda é retratado em diversas mídias até hoje, já em Maurice seu maior plot twist e triunfo é esse, mesmo com todos os percalços e dificuldades o amor se sobressai e vence, Maurice é uma vitória do século passado e desejamos essa vitória pra todos os casais ficcionais ou reais nesses tempos difíceis. Que o amor vença sempre.
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@alephbookworm 02/11/2020

Foster faz tudo.
Primeiro: a mensagem do livro infelizmente é atual.

Recomendo procurar entender antes do porquê o livro foi publicado tão tardiamente devido as restrições e o medo da represalia do autor.

Segundo: o livro vai abordar sobre varios aspectos da homossexualidade. Dificilmente você não vai ver arquétipos de pessoas ou personalidade ou pensamentos reais e tão atuais

Terceiro: o livro é bem real em vários pontos, mas acredite em mim que o autor tem seus motivos pra fazer o que fez.

Quarto: Uma das minhas leituras do ano. Se você gostou de Me chame pelo meu nome, vai amar esse livro. (E se odiou, veja esse livro kkkkk)
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Luana 03/10/2020

Bacana e necessário
O livro como um todo é um argumento pra refutar quem fica falando q "n existiam LGBTQ+ na minha época".
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dumbodaddy 01/10/2020

não há sentimento explicável
"Se houvesse criado um final infeliz, com um rapaz balançando na ponta de uma corda ou com um pacto suicida, tudo ficaria bem, pois não poderia ser acusado de promover pornografia ou sedução de menores. Mas, como os amantes se safam sem punição, a obra conseqüentemente recomendaria o crime."
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