Ludmilla Silva 06/03/2022"Just because the straights in Hollywood don't know how to tell my story doesn't mean it's not out there"Eu amei demais esse livro, de um jeito que fazia tempo que eu não adorava e tenho certeza de que vai ser uma das minhas leituras favoritas de 2022. Esse livro tem basicamente tudo que eu amo: romance (sendo ele bem clichê) + enemies to lovers + comedia romântica + filmes + referências a Paris, então para mim, é basicamente a fórmula perfeita de leitura, além disso, o livro consegue trazer um romance extremamente fofo e delicado e aborda muito bem a questão da representatividade e orientação sexual, pontos que me agradaram bastante.
O livro irá contar a história de Emma e seu grupo de amigos, Emma está no ensino médio e é apaixonada por filmes, assim quando surge a oportunidade de ela participar de um concurso de curtas que pode resultar em uma carreira futura na universidade e na indústria, ela logo abraça essa chance. Todavia, tudo parece dar errado quando uma antiga amiga do grupo – e uma espécie de inimiga/rival de Emma – Sophia, volta de Paris direto para o grupo de amigos de Emma, algo que resulta em bastante perturbação tanto para o curta-metragem que eles irão produzir quanto para o grupo como um todo.
Eu adoro a relação entre Emma e Sophia, elas não são necessariamente inimigas, mas elas não têm intimidade uma com a outra no início, e parecem ter opiniões contrárias bastante fortes, o que rende muitas discussões e brigas entre às duas. Eu gostei muito do fato de que às duas pareciam evitar qualquer tipo de aproximação antigamente, por elas serem as únicas meninas abertamente LGBTQIA+ na escola, o que gera certa expectativa de relacionamento entre elas. Achei essa pequena observação bastante interessante, pois realmente existe essa expectativa e estereótipo entre pessoas LGBTQIA+ e apesar do livro meio que comprovar isso ele mostra que elas ficaram juntas em função da personalidade e de sentimentos que nutriam uma pela outra e não apenas por essa expectativa muitas vezes ilusória.
Não acho que as protagonistas possuem personalidade fortes ou são insuportáveis como vi algumas pessoas falando, elas são incríveis e nos momentos que agem de modo infantil é algo bastante compreensível, então é comum sentir empatia e entendimento por elas pelo menos no meu ponto de vista. Eu amo como elas são o completo oposto uma da outra, mas no final elas começam a se entender e basicamente mesclam partes da personalidade. De um lado temos Emma, que é completamente apaixonada por comédia romântica e consequentemente apaixonada por amor, ela nunca esteve em nenhum tipo de relacionamento, mas acredita em grandes gestos e em um romance épico. Do outro lado temos Sophia, que acabou de ver seus pais se divorciando e sua família se deteriorando, por tal motivo ela não acredita no amor e acha que este apenas resulta em coração partido e sofrimento.
É interessante, pois Sophia olha para Emma e sua obsessão por amor e lembra de tudo que o amor fez com que ela perdesse, e Emma olha para Sophia e não consegue entender como ela consegue ser tão amargurada com algo tão bonito e sincero. Ambas são muito intensas com suas opiniões e crenças, e é interessante ver que depois quando elas ficam juntas essa intensidade se diminui e elas começam a entender melhor o lado uma da outra, quase como um contraste. Sophia é lésbica e abertamente assumida para sua família e amigos há anos, já Emma é bissexual e não é assumida para a família e esse ponto de vista da Emma foi uma das partes que mais me agradou, eu achei os sentimentos e preocupações dela totalmente plausível e de acordo com a realidade, gostei muito dessa parte e confesso que nunca me senti tão representada com os dilemas e crenças de uma personagem.
O grupo de amigos de Emma e Sophia é um ponto muito forte ao meu ver, existe um drama romântico ali com eles, e eu achei essa parte bem engraçada e divertida. Eles são construídos de modo a ficar no segundo plano em muitos momentos, mas ao mesmo tempo são bem desenvolvidos a ponto de ter seus próprios núcleos e conseguirem cativar os leitores. E eu honestamente achei o livro, principalmente no que tange as interações dos personagens um livro extremamente leve e divertido, eu não sou de ficar rindo, porém, me peguei gargalhando inúmeras vezes aqui, e também fiquei com o olho cheio de lágrimas em muitos momentos, são coisas simples, porém que me tocaram bastante.
Por fim, eu queria endereçar algumas críticas sobre o livro que eu vi algumas pessoas comentando. Vale lembrar, que cada um tem sua experiência com a leitura e literatura nunca vai ser consenso, porém eu queria defender a narrativa nesses pontos. O primeiro diz respeito a produção do curta metragem: a premissa do livro gira em torno da criação do curta metragem para enviar para o concurso, e eu vi que alguns acharam que essa parte não foi muito bem tratada e eu honestamente discordo. O livro todo se pauta nas ideias, nos grupos fragmentados, na filmagem, edição e expectativa para o futuro segundo o curta-metragem, o único jeito de endereçar melhor tal fato seria colocando o roteiro do curta no final do livro o que para mim não faria sentido. Acredito que a autora conseguiu amarrar muito bem a premissa do curta com os acontecimentos pessoais dos personagens, talvez a única coisa que eu senti falta foi no final, pois como Emma e Sophia mesclaram seus curtas eu gostaria de uma explicação melhor sobre o que era a história, mas fora isso eu achei a proposta extremamente concisa.
E o segundo ponto diz respeito a reação da Emma quando ela se assumiu para os pais. Vale lembrar que a sociedade é extremamente hostil para com pessoas LGBTQIA+ e ainda os obrigam a se assumir, algo que não deveria nem existir. Emma é uma garota que já sabia que era bissexual há uns bons anos e a relação com os pais dela sempre foi incrível, então na minha cabeça ela imaginava que quando ela se assumisse haveria duas reações possíveis: o acolhimento ou o desentendimento/decepção. E como uma pessoa que preza muito pela boa relação com os pais ela preferiria a primeira reação, então quando ela contou e os pais dela (em uma tentativa de serem modernos e compreensíveis) apenas falaram “que legal, querida” ou “isso é ótimo” ela se sentiu extremamente invalidada como se os pais não se importassem com ela ou com que ela era.
E eu a entendo completamente, eu também odiaria que isso acontecesse comigo. É um momento tão difícil de se passar e ela esperava no mínimo que seus sentimentos fossem validados, pois como ela ressalta várias vezes ao longo do livro, ser bissexual faz parte de quem ela é, então é uma parte bastante importante e significativa para ela. E quando ela não teve o acolhimento que ela queria foi um baque, pois pareceu que ela e os sentimentos dela não eram importantes. E a autora foi muito perspicaz nesse sentido, pois os leitores estavam esperando 8 ou 80 e quando a reação foi mista e neutra acredito que muitos não entenderam, mas no meu ponto de vista foi algo muito triste e pesado. Por isso eu fiquei muito emocionada no final quando a Emma conseguiu, através do seu filme, mostrar para os seus pais quem ela era e o quanto ser bissexual era importante e era uma grande parte da vida dela.
É um livro que tem muitas nuances que eu peguei e amei demais tanto porque me emocionou quanto porque me representou, e eu amo me ver em uma personagem me sinto extremamente feliz e válida, é também um livro com uma grande diversidade de personagens, um livro leve e bastante engraçado, e para além disso é apenas um livro de romance, um romance bem clichê e LGBTQIA+, tem algo melhor que isso? Claramente não. É compreensível que leitores que não são fãs do gênero não gostem do livro algo extremamente normal, mas para quem gosta é um prato cheio. Uma história que preza pela representatividade e pela visibilidade de personagens há tanto tempo negligenciados é e sempre vai ser importante independente da complexidade da narrativa, por isso vou continuar espalhando a palavra desse livro o máximo possível.