Os Bestializados

Os Bestializados José Murilo de Carvalho




Resenhas - Os Bestializados


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Lucas.Silva 19/04/2024

Livro essencial para se debater a república brasileira
Neste livro, José Murilo de Carvalho traz debates muito contundentes para se tratar dos brasileiros no período republicano, mais especificamente na capital do país de então, Rio de Janeiro. O autor, ainda que não seja um historiador de formação, faz uma análise histórica muito competente, com boas inferências e metodologias. Não apenas traz informações, mas as debate e faz perguntas a elas, trabalho de um verdadeiro pesquisador! Ele trouxe temáticas como a cidadania (ou estadania, como ele argumenta) na capital brasileira, assim como ideais sobre a república, a revolta da vacina (acontecimento em que o autor se demora bastante, e isso não é uma crítica) e como o povo estava inserido nesses debates. Acredito que há falhas na sua interpretação quanto ao povo brasileiro, como se observa na sua análise do Rio, dizendo ser o único lugar com uma cultura carnavalesca (com uma possível ressalva para Salvador), além de trazer uma perspectiva bem frágil acerca da sociedade ibérica.

Mesmo com tais fragilidades, o livro é essencial para qualquer pessoa que deseje entender melhor a história da nossa república, permeada de idealizações e decepções.
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soares123 11/01/2024

?
Gostei bastante da obra. Imaginei que seria algo genérico e sem muitos detalhes, mas acabei me surpreendendo com a riqueza e pontualidade do autor na visita aos primeiros anos de República.
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Karla 27/12/2023

Ótimo livro com retrato das consequências da República para a população e para a cidade do Rio de Janeiro como todo. Apesar de retratar o passado, o livro mostra muitas semelhanças daquele momento político com o Brasil atualmente.
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Adilson40 15/05/2023

A República que nunca foi!
Ao reler essa obra de José Murilo de Carvalho, é inevitável não pensar o Brasil dos nossos tempos e por isso o título da resenha, " A República que nunca foi"
A República Brasileira desde a sua implantação foi sendo consolidada como uma res-privada, onde a elite dominante a utilizava como mecanismo de dominação e controle social e para o povo não restava outra alternativa, ou ser bestializado nos momentos solenes ou bilontras no cotidiano.
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BeatrizFonseca1 17/04/2023

O Rio de Janeiro, passou por uma turbulenta fase política e econômica, no fim da monarquia para a transição para a Republica, houve alterações significativas em ascptos como o índice da população, a composição étnica, com a lei Aurea , de 1888,assinada pela princesa Isabel , os negros foram lançados em uma sociedade completamente racista e sem oportunidade de empregos, para conseguirem sobreviver, além do alto nível de imigração de portugueses, italianos e alemães para trabalharem nas fabricas, problemas de falta de infraestrutura da cidade, como abastecimento de água, saneamento básico , o que fez com que se ampliassem os casos de varíola , febre amarela, malária e tuberculose.
A população do Rio modificou-se quantitativamente e na composição de etnias, o fim da escravidão provocou grande quantidade de desemprego e subdesemprego, e um êxodo significativo do campo para a cidade , os problemas de higiene, habitação, moradia , abastecimento da agua, foram intensificados, no inicio do período republicano, as ideologias políticas no Brasil se tornaram um mistura de positivismo e socialismo, desorganizados e desconexos com suas ideias reais.
Houve uma inflação generalizada que prejudicou das classes mais altas até as baixas, os militares estavam se achando salvadores da nação, houve caos e desorganização política e social, em 1897 houve a tentativa de assassinato do presidente da república , a implantação da republica brasileira foi problemática, não houve implantação de nenhuma ideologia com convicção, surgiram propostas de anarquismo, a marginalização e os crimes aumentaram consideramente.
Os ex-escravos e pobres não possuíam nenhuma simpatia pelo sistema republicano, houve guerras civis nos estados do Sul, como a farroupilha no Rio Grande do Sul, e existia a possibilidade de fragmentação do Brasil, houveram greves e manifestações, em 1904, houve a lei da vacinação obrigatória, que causou revolta na população, nas fabricas os operários, se dividiam em duas correntes uma que seguia o anarquismo e a desordem, e a outra que buscava integra-se nos mecanismos de cooptação do estado.
O Rio de Janeiro passava por um estado de espirito francês chamado belle époque, na qual a cidade deveria seguir padrões higiênicos e urbanísticos de cidades como Paris na França, a constituição de 1824, possibilitou a manifestação do pensamento e ao direito á propriedade privada, no Brasil pessoas analfabetas, não podiam votar.
Lopes Trovão e Silva Jardim foram os principais lideres da revolta do vintém, que deve influencia ideológica na revolução francesa, ele possuía uma politica radical, defendia que a população deveria defender seus interesses, se necessário deveria haver o uso de armas e mortes.
Em 1889, Teixeira Mendes reuniu-se com à proximamente 400 operários, e criou o documento exigindo direitos , como jornada de trabalho de sete horas, descanso semanal, férias de 15 dias, licença remunerada , aposentadoria, pensão para a viúva ,entre outros e entregou ao ministro da guerra Bejamin Constant.
A visão de que a população era completamente alienada e não participo de nenhuma manifestação política era bastante exagerada, porque houveram greves operarias e quebra quebra, a revolta da armada de 1897 e o atentando contra Prestes, foram exemplo disso, a população que participou desses movimentos eram vistos como escoria da sociedade, eram marginalizados, a sociedade da época era estratificada por banqueiros o setor médio por funcionários públicos e os comerciantes e em baixo e em abaixo os trabalhadores domésticos, em 1890 houve a naturalização dos estrangeiros como brasileiros, entretanto isso não foi bem visto pelos alemães e franceses, que lutaram contra essa lei, já os portugueses apesar de serem maioria não tiveram essa força, os portugueses possuíam resseio de servir ao serviço militar.
O governo de Campo Sales, existia uma forte crise econômica, na qual houve muitos cortes econômicos, Oswaldo Cruz, foi ordenado como diretor geral da área da Saúde, e obrigou as pessoas a se vacinarem, diante disso e da falta de conhecimento da população houve uma revolta foram criadas brigadas sanitárias, que desinfetaram prédios e ruas, os cortiços foram destruídos e houve uma tentativa de europeizar-se a cidade e criar-se uma “bela époque” foi proibido animais , houve forte resistência contra a obrigatoriedade da vacina, argumentando-se que ela provocaria problemas para a saúde, como convulsões, diarreias epilepsia, o atestado de vacina começou a ser obrigado para vários fatores, como matricula em escolas, emprego público, empregos nas fabricas, viagem, etc.
A constituição de 1824, na teoria dava liberdade de manifestação de pensamento, de profissão, e a garantia da propriedade privada, mas existiam apenas 10% votantes entre a população porque era necessário ser alfabetizado e ter grande poder aquisitivo, e havia a classificação entre cidadoes ativos e cidadoes inativos, apenas os ativos possuíam direitos civis e políticos, pessoas analfabetas, pobres e mulheres não podiam votar e serem votadas e governo negligenciou o direito a educação desses indivíduos o decreto de 1890, tentou proibir as greves e manifestações dos trabalhadores, o poder moderador que existia no império foi excluído, os militares foram um dos grupos, que mais apoiaram a implantação da republica e algum setor queria ter parte na administração do estado.
Alguns periódicos da época consideravam que o estado estava sendo extravagante e usando a constituição de forma deturpada, houveram manifestações estaduais, comerciantes, operários e militares contra a obrigatoriedade da vacina, na qual possuíam conflitos físicos com a polícia e geravam mortos e feridos. A questão da problematização das fontes, para essas manifestações é complexo para os historiadores, porque elas faltam muitas informações como nomes, características sociais, faltam processos crimes para analisar essas informações, sobrado apenas jornais para ser problematizados e estudados sobre o tema, que tinham informações muitas vezes deturpadas.
Houveram greves trabalhadoras, em vários setores como pedreiros, afaites, pintores, sapateiros, houveram tiroteios e conflitos, essas greves se dividiram em duas vertentes, uma vai tradicional, que buscavam resolver os conflitos através do diálogo com os patrões e outra mais revoltada, como os anarquistas, que queiram resolver os problemas com a violência e a imposição, a população começou a destruir postes, bondes e fazer arraunça pelas ruas, com o intuito de não se vacinarem, alguns intectuais da época como Rui Barbosa também foram contra vacina, a revolta da vacina ocorreu por valores morais enquanto outras revoltas ocorrem por questões econômicas.
Os reformistas se queixam da dificuldade da classe trabalhadora de se unir para buscar melhorias de salários e alienado perante as péssimas condições de trabalho , eles queria que eles se unissem de forma melhor estruturada por melhores condições econômicas e trabalhistas, vários hotéis começaram a ser excepcionados, pela justiça para que não aceitarem negros , pobres e marginalizados.
Carvalho explica que Max Weber argumentava que a cidade medieval, desenvolveu coletividade de produtividades individuais que criaram novas concepções políticas e ideológicas, na qual se quebraram estruturas familiares e religiosas, e o capitalismo foi surgindo , baseando-se em trabalho livre, sociedade de mercado e racionalismo, com um estado liberal e da democracia, o Rio de Janeiro possuíam era uma sociedade consumidora e predominante escravista , na qual no século XVII tornou-se o centro político e administrativo do Brasil e ontogênica e com uma desorganização na estrutura da representação política, por isso as hierarquias sociais e leis não eram seguidas e caiam em desmoronamento, a ideologia liberal pre´-democrática e darwinista dominou o poder oligárquico e dificultou a mobilização da população, no ascpto social e político.








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Ronald.Willian 31/03/2023

Uma importante análise sobre os primeiros anos, pós proclamação da República no Brasil.
José Murilo de Carvalho desenvolve esse brilhante livro a partir do questionamento atribuído a Aristides Lobo.
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Tiago Souza 24/02/2023

Como o passado reflete nosso futuro
Impressionante como é possível compreende melhor a sociedade, e principalmente a sociedade brasileira hoje, olhando e analisando seu passado.
Nesse livro, José Murilo, brilhantemente narra o começo de nossa república ( se é que podemos chamar assim), uma população não política e não participativa desde seu início, a mercê de tudo que seria importante para a evolução da república e da sociedade, fato hoje ainda presente na nossa sociedade, e muito se explica os motivos nessa obra.
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alex 26/08/2022

Os bestializados - o RJ e a República que não foi
De José Murilo de Carvalho (1987)

Uma leitura muito boa que nos remete à cidade do RJ pós proclamação da República (1889) até por volta de 1904, com a Revolta da Vacina.

Ao tentar identificar a associação entre a jovem República, a cidade e a cidadania, o autor nos oferece uma excelente perspectiva sociológica para o que seria uma aparente passividade política do brasileiro (incluindo um excelente tratado sobre as causas da Recolta da Vacina, que desmentiram, em parte, esse certo desinteresse político).

Por ocasião da proclamação (da qual o povo não teria participado): "A mesa estava posta, por que não apareciam os convivas? Onde estavam eles?" (p. 71)

E à guisa de conclusão: "Na República que não era, a cidade não tinha cidadãos" (p. 152).
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Bárbara 15/08/2022

Interessante
Uma análise muito importante acerca da participação da população carioca na República recém proclamada, onde podemos notar as mudanças que não ocorreram, apesar do novo regime político, além de todos os problemas sociais da época.
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giu 04/07/2022

Bestializados ou Bilontras?
Eu gostei muito mais do que esperava dessa leitura.

Tudo bem que eu não a pessoa certa para indicar livro desse estilo, pq li muito pouco e tenho o conhecimento histórico que adquiri no ensino médio. Porém, deixo aqui a recomendação para quem -assim como eu- ama estudar sobre a formação do nosso país mas não quer se aventurar por nada muito complexo.

A obra é muito didática e repleta de dados, fontes e contextualizações. São páginas muito ricas em conhecimento histórico, nunca havia lido nada parecido sobre a República.

A Revolta da Vacina sempre me chamou muito a atenção nos estudos e lendo fica claro o quanto ela foi um marco na nossa sociedade e como o Rio de Janeiro é um perfeito reflexo de quem somos até os dias de hoje.
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Talvanes.Faustino 22/05/2022

Bom
Pra quem está procurando uma historiografía de fácil leitura, que mesmo sem ser um estudante do curso de História, será suave, este é um ótimo título.
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Osório 11/06/2021

José Murilo de Carvalho busca retratar três pontos nesse livro: a Proclamação da República e seus desafios, a cidadania exercida pelo povo com essa "democracia"(tá mais para oligarquia pelo fato de ser quase que totalmente excludente) e a cidade do Rio de Janeiro, palco de inúmeras revoltas e conflitos, onde o povo, quando insatisfeito, não tinha nada de bestializado, reinvindicava e protestava contra o descaso governamental, a exemplo da Revolta da Vacina, onde a vacinação obrigatória foi apenas o estopim para iniciar os protestos por melhores condições de cidadania, assegurada na constituição, que de certa forma, era simbólica.
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Ogaiht 11/05/2021

A República que Não Foi
O fim do regime monárquico e a instauração do regime republicano foi uma época de grandes expectativas por mudanças no país. Porém, vemos que pouca coisa muda depois da instauração do novo regime. O direito ao voto continua restrito aos que possuem mais dinheiro e vetado aos analfabetos e pobres. A exclusão e a desigualdade existentes no Império permaneceram na República. Vemos que o golpe que pôs fim à Monarquia nada mais era do que uma tentativa das oligarquias de manter seu status e que esse movimento não contou com o apoio das massas. Talvez por isso pouca coisa tenha mudado com instauração da República. Uma leitura bem leve e fácil, que nos mostra que vários aspectos dessa sociedade do final do século XIX e início do século XX ainda permanecem na nossa sociedade atual.
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Anderson.Fernandes 29/01/2021

República já começou mal
Os Bestializados – O Rio de Janeiro e a República que não foi
José Murilo de Carvalho

É um livro bem interessante, eu diria que seria algo como um livro técnico de história. Tem que ler com calma e atenção. Tem partes que são excertos de jornais da época e estes possuem arcadismos que não conhecemos mais, sendo necessário busca em dicionário. Voltando ao tema do livro, ele aborda como era a sociedade civil carioca nos primeiros anos pós proclamação da República. Em síntese estas eram as principais características:
• O povão assistiu a proclamação da República Bestializado (surpreso).
• O povão não via na instituição da República algo acessível, não se interessava por assuntos políticos e queria levar a sua vida, trabalhar e ser incomodado o mínimo possível pelo Estado.
Haviam muitos defensores da República e que em suas colunas nos jornais defendiam que o povo queria participar mais das decisões políticas, que com a República o povo teria acesso à cidadania, e que com a República o povo iria governar - típica baboseira que vemos hoje em dia, onde jornalistas, influencers e famosos defendem idéias totalmente descoordenadas da realidade. A massa trabalhadora não estava nem aí para isso. Eles se associavam e participavam das festas religiosas, do carnaval, de entidades étnicas e comunidades de trabalhadores.
A massa de trabalhadores tinha mais conexão com a monarquia, com uma visão onde o monarca era o seu patriarca. Com a República era algo abstrato, que não se entendia, ou não se dava a mínima.
Através de passagens de jornais o livro mostra que a República no Brasil era uma espécie de cópia malfeita da Europa. Isto porque não houve no Brasil um crescimento de idéias e estudos de pensamento republicano, tampouco um absorção do público sobre o que era uma república, suas características, estruturas de participação na política, etc etc. Os apoiadores queriam uma república basicamente porque aquilo estava na moda. O cidadão brasileiro, súdito do imperador, não sabia nem queria saber o que era república. Tanto é que após o golpe da república, evidenciou-se isto pela falta de participação política. Não saíam para votar, não formavam partidos, não iam a reuniões de entidades políticas. Povo era indiferente. Muitos partidos políticos eram formados, duravam algum tempo e se extinguiam.
Livro também cita passagens de jornais falando de quão perigoso era votar. Tinha pancadarias e agressões. Candidatos contratavam jagunços e capoeiras para intimidar as pessoas e bater em oponentes (oponentes leia-se qualquer cidadão que não vote nele e/ou olhar atravessado para o mesmo). De modo que o cidadão que queria paz nem saía de casa nos dias de eleição.
O maior capítulo do livro é sobre a famosa Revolta da Vacina. Traz dados de censo, quantas pessoas foram feridas, mortos, dados jornalísticos sobre quebra-quebra. Aliás o livro diz que a forma que o povo tinha de se relacionar com o governo era um modo reativo. Quando a República/Governo fazia algo que o contrariasse muito, ocorriam quebra-quebra. Postes, bondes, paralelepípedos. Se fosse pouca coisa, não dava nada, o povo é manso. A vacina foi um pouco disso. Povo não queria o governo se intrometendo em suas casas, aplicando vacinas nas donas do lar sem o marido estar em casa, somado ao fato de já ter um estresse acumulado devido a muitos despejos e desmontes de cortiços, destruição de moradias sujas e insalubres, promovido pelo prefeito Pereira Passos. Aliás, prefeito que fez um longo trabalho de construções públicas seguindo e inspirado pela arquitetura Haussmann parisiense. A dupla Pereira Passos e Osvaldo Cruz, este último na área da saúde, fizeram trabalhos bons e positivos na melhoria da saúde da população carioca. Além dessa questão intrusiva que incomodava o povo, os militares queriam dar um golpe no governo e atiçavam multidões e formaram grupinhos(hoje em dia isto é chamado de coalizões) para tentar aplicar um golpe no governo. Teve combates entre militares pró e militares contra governo, deserções de militares revoltosos e governo chamou Marinha e Exército para combater os rebeldes. No final muitos foram banidos para o Acre e a população se acalmou. Esses banimentos eram sumários, sem julgamento nem nada. Manda pro Acre e acabou-se. Entre os banidos, destaque para o marginal Prata Preta. Conhecido capoeira perigoso na cidade, matou policiais e à muito custo foi preso e metido em camisa de força. Mesmo em camisa de força continuou xingando os policiais e querendo briga. Foi banido para o Acre. No navio brigou e porrou os outros presos de modo que se tornou chefe dos outros banidos. Cara brabo!
Segue abaixo alguns trechos que destaquei no livro:

[...]
“Pouco antes da república, o embaixador Português anotava: “Está a cidade do Rio de Janeiro cheia de gatunos e malfeitores de todas as espécies”. Em proposta para regulamentação do serviço doméstico, feita à Intendência Municipal em 1892, Evaristo de Moraes observava que havia na capital “gente desocupada em grande quantidade, sendo notável o número de menores abandonados”.


Essa população poderia ser comparada às classes perigosas ou potencialmente perigosas de que se falava na primeira metade do século XIX. Eram ladrões, prostitutas, malandros, desertores do Exército, da Marinha e dos navios estrangeiros, ciganos, ambulantes, trapeiros, criados, serventes de repartições públicas, ratoeiros, recebedores de bondes, engraxates, carroceiros, floristas, bicheiros, jogadores, receptadores, pivetes(a palavra já existia). E, é claro, a figura tipicamente carioca do capoeira, cuja fama já se espalhara por todo o país e cujo número foi calculado em torno de 20 mil às vésperas da República. Morando, agindo e trabalhando, na maior parte, nas ruas centrais da Cidade Velha, tais pessoas eram as que mais compareciam nas estatísticas criminais da época, especialmente as referentes à contravenções do tipo desordem, vadiagem, embriaguez, jogo. Em 1890, essas contravenções eram responsáveis por 60% das prisões de pessoas recolhidas à Casa de Detenção.”
[...]
“Os velhos problemas de abastecimento de água, de saneamento e de higiene viram-se agravados de maneira dramática no início da República com o mais violento surto de epidemias da história da cidade. O ano de 1891 foi particularmente trágico, pois nele coincidiram epidemias de varíola e febre amarela, que vieram juntar-se às tradicionais matadoras, a malária e a tuberculose. [...] A cidade tornara-se, sobretudo no verão, um lugar perigoso para viver, tanto para nacionais quanto para estrangeiros. Nos meses de maior calor, o corpo diplomático fugia em bloco para Petrópolis a fim de escapar às epidemias, nem sempre com êxito. O governo inglês concedia a seus diplomatas um adicional de insalubridade pelo risco que corriam representando Sua Majestade.”
[...]
“Pelo lado econômico,[...] grandes agitações. [...] origem de tudo remontava à abolição da escravidão. [...] devido à necessidade de aplacar os cafeicultores, o governo imperial começou a emitir dinheiro, no que foi seguido com entusiasmo pelo governo provisório, este preocupado em conquistar simpatias para o novo regime. Concedido o direito de emitir a vários bancos, a praça do Rio de Janeiro foi inundada de dinheiro sem nenhum lastro, seguindo-se a conhecida febre especulativa, bem descrita no romance de Taunay, o Encilhamento. [...] As consequências não se fizeram esperar. Desde logo, houve enorme encarecimento dos produtos importados [...] A seguir, a inflação generalizada e a duplicação dos preços já em 1892. AO mesmo tempo, começou a queda do câmbio, encarecendo mais ainda os produtos de importação, que na época abrangiam quase tudo. Em 1892 já era necessário o dobro de mil réis para comprar uma libra esterlina; em 1897, o triplo. Por cima, o governo aumento os impostos de importação e passou a cobrá-los em ouro, o que contribuiu ainda mais para o agravamento do custo de vida. [...] Até o embaixador inglês sofreu as consequências [...] encaminhou pedido ao Foreign Office [...] até quando podemos esperar que o povo brasileiro aceite carregar tal peso?”

[...]
“Os militares tinham provado o poder que desde o início da Regência lhes fugira das mãos. Daí em diante julgaram-se donos e salvadores da República, com o direito de intervir assim que lhes parecesse conveniente. Rebelavam-se em quartéis, regimentos, fortalezas, navios, A Escola Militar, a esquadra nacional em peso. Generais brigavam entre si, ou com almirantes, o Exército brigava com a Armada, a polícia brigava com o Exército. Por seis meses, a esquadra rebelada bloqueou o porto e bombardeou partes da cidade, causando pânico, deslocamentos maciços de população para os subúrbios, ameaças de saques. Os operários, ou parte deles, acreditaram nas promessas do novo regime, tentaram organizar-se em partidos, promoveram greves, seja por motivos políticos, seja em defesa de seu poder aquisitivo erodido pela inflação. [...] Pequenos proprietários, empregados, funcionários públicos também se mobilizaram pela primeira vez no bojo da xenofobia florianista, organizando clubes jacobinos e batalhões patrióticos. [...] Quebravam jornais, promoviam arruaças, [...] espancavam e matavam portugueses, perseguiam monarquistas, assassinavam inimigos. Em 1897 tentaram matar o presidente da República, depois de terem feito o mesmo com o último presidente do conselho de ministros da Monarquia. Políticos republicanos e monarquistas assinavam manifestos, envolviam-se em conspirações, planejavam golpes. [...] e havia ainda os positivistas, que exultaram com o advento do novo regime, julgando ter chegado a hora, a que se consideravam destinados, de exerceram a tutela intelectual sobre a nação. ”
[...]
Da invasão da Câmara Municipal a 15 de novembro de 1889, [...] participaram vários intelectuais. [...] como José do Patrocínio, [...] Olavo Bilac, Luís Murat, Pardal Mallet. Um mês depois, intelectuais do Rio enviaram um manifesto de entusiástico apoio ao governo provisório, em que se referiam à aliança entre os homens de letra e o povo. A pátria, dizia o manifesto, abrira as asas rumo ao progresso. “a literatura vai desprender também o voo para acompanha-la de perto”. O entusiasmo durou até o governo Floriano, quando se deu um cisma entre os intelectuais, e alguns dos antigos entusiastas da República tiveram de fugir da capital para evitar a prisão.”
[...]
“Mais difícil de avaliar é o impacto da proclamação do novo regime a nível das mentalidades. [...] Não seria exagerado dizer que a saída da figura austera e patriarcal do velho imperador, que imprimia forte marca em toda a elite política e mesmo em setores mais amplos da população, significou a emancipação dos que seriam simbolicamente seus filhos. A mudança parece ter sido importante sobretudo no que se refere a padrões de moral e de honestidade. [...] Desabrotou o espírito aquisitivo solto de qualquer peia de valores éticos, ou mesmo de cálculo racional que garantisse a sustentação do lucro a médio prazo. [...] A quebra de valores antigos foi também acelerada no campo da moral e dos costumes. [...] parece-me que o antes era semiclandestino, sussurrado, adquiriu com a República [...] foros de legitimação pública. O pecado popularizou-se, personificou-se.”
[...]
“Mas há um ponto que é preciso salientar. O fato de a República ter favorecido o grande jogo da bolsa e perseguido capoeiras e o pequeno jogo dos bicheiros sugere uma recepção diferente do novo regime por parte do que poderia ser chamado de proletariado da capital. [...] Eu diria mesmo que a Monarquia caiu quando antigia seu ponto mais alto de popularidade entre essa gente, em parte como consequencia da abolição da escravidão. A abolição deu ensejo a imensos festejos populares que duraram uma semana e se repetiram no ano seguinte, cinco meses antes da proclamação da República. A simpatia popular se dirigia não só à princesa Isabel, mas também a Pedro II, como ficou evidenciado por ocasião da comemoração do aniversário do velho imperador, a 2 de dezembro de 1888. Segundo o testemunho do republicano Raul Pompeia, o Paço Imperial foi invadido por “turba imensa de populares, homens de cor a maior parte”. A polícia teve de intervir para convencer alguns dos manifestantes de que pelo menos vestissem camisa para se apresentarem ao imperador. No meio da multidão, salientava-se a imponente figura do príncipe Obá, um negro que se dizia rei africano. Príncipe Obá adornara de penas sua farda de alferes honorário. [...] A reação negativa da população negra à República manifestou-se antes mesmo da proclamação, através da Guarda Negra organizada por José do Patrocínio. Vários incidentes [...] o mais sério de todos se deu com a interrupção, que resultou em mortos e feridos[...] os republicanos não conseguiram a adesão do setor pobre da população, sobretudo dos negros. O próprio Silva Jardim, ao acompanhar o conde d’Eu em sua viagem ao norte do país em 1889, experimentaria mais uma vez, em Salvador, a ira da população negra. Por ele e pela República manifestaram-se apenas os estudantes da Faculdade de Medicina local. A simpatia dos negros pela Monarquia reflete-se na conhecida ojeriza que Lima Barreto, o mais popular romancista do Rio, alimentava pela República. Neto de escravos, filho de um protegido do visconde de Ouro Preto, o romancista assistira, emocionado, aos sete anos, às comemorações da abolição e às festas promovidas por ocasião do regresso do imperador de sua viagem à Europa, também em 1888. [...] vira no ano seguinte seu pai, operário da Tipografia Nacional, ser demitido pela política republicana.

[...]
“Dissociava-se o governo municipal da representação dos cidadãos. O fato era agravado pela frequente nomeação de prefeitos e chefes de polícia totalmente alheios à vida da cidade, muitas vezes trazidos dos estados pelos presidentes da República. [...] do espírito de república, guardavam no máximo alguma preocupação com o bem público, desde que o público, o povo, não participasse do processo de decisão. O positivismo, ou certa leitura positivista da República, que enfatizava, de um lado a idéia do progresso pela ciência e, de outro, o conceito de ditadura republicana, contribuía poderosamente para o reforço da postura tecnocrática e autoritária.”

[...]
“No que se refere à representação municipal, ela ficava solta, sem ter de prestar contas a um eleitorado autêntico. A consequência foi que se abriu por esse modo o campo para os arranjos particularistas, para as barganhas pessoais, para o tribofe, para a corrupção. E então fechou-se o círculo: a preocupação em limitar a participação, em controlar o mundo da desordem acabou por levar à absorção perversa desse mundo na política. Ao lado de funcionários públicos, passaram a envolver-se nas eleições e na política municipais, por iniciativa dos políticos, os bandos de criminosos e contraventores do estilo de Totonho e Lucrécio Barba de Bode, descritos por Lima barreto, os donos das casas de prostituição e de jogo. Eram esses malandros, no sentido que tinha a palabra na época, os empresários da política, os fazedores de eleições, os promotores de manifestações, até mesmo a nível da política federal. A ordem aliava-se à desordem, com a exclusão da massa dos cidadãos que ficavam sem espaço político. O marginal virava cidadão e o cidadão era marginalizado” – Nota minha: e esta situação perdura até hoje.


Nota final: É um livro com muitas notas, e entre elas me chamou atenção para buscar a leitura de outros livros, a saber:
José Vieira, O Bota-Abaixo. Chronica de 1904
Thomas Ewbank, Life in Brazil, or A Journal of a Visit to the Land of the Cocoa and the Palm
Mary Karasch, Rio de Janeiro: from Colonial Town to Imperial Capital (1808-1850)
Plácido de Abreu, Os capoeiras.
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dudaz 19/01/2021

A Republica que não foi
“O povo assistia a tudo bestializado, sem saber o que acontecia, alguns, pensavam ser apenas uma parada militar”. Aristides Lobo resume muito bem o início da república brasileira, um regime que deveria surgir da vontade do povo, mas que foi feito por meia dúzia de militares insatisfeitos. O povo que deveria ser a voz, estava calado, inerte. Politicamente, a república era a esperança, novos ventos de participação, mas o novo governo quis abafar o povo em nome da estabilidade politica, excluindo até a participação no processo eleitoral.
A esperança se tornou a decepção. Em seu livro, Jose Murilo de Carvalho descreve em 5 capítulos os primeiros passos desse Rio de Janeiro republicano, seus conflitos, agitações, greves. A cidade tentando criar sua identidade, mas que aos tropeços mal conseguia se manter de pé. Historia social, analise politica, critica cultural, tudo isso é abordado, os impasses de uma república recente. Como descreve Francisco Foot Hardman: “Os bestializados de ontem e de hoje, são a face oculta do nosso modernismo, a cidade permaneceu alheia e atônita, buscando perdidamente os seus cidadãos”… até hoje.
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