Zeka.Sixx 25/08/2021
Curto, mas intenso
Lançada em 1954, e escrita, incrivelmente, quando Françoise Sagan tinha apenas 18 anos, essa novela é narrada em primeira pessoa pela protagonista Cécile, uma jovem de 17 anos, recém saída de um internato religioso, que passa o verão na Riviera Francesa ao lado do pai, um publicitário quarentão e viúvo. Rico, bonitão e mulherengo, o pai de Cécile é um legítimo bon vivant, colecionando relacionamentos fugazes com mulheres dez ou quinze anos mais novas, lindas e de cabeça oca.
Maravilhada com o estilo de vida do pai, por quem nutre quase uma paixão platônica, Cécile se joga de cabeça nesse estilo de vida, à base de jantares com os amigos fúteis do pai, muitos drinques, cigarros, e intermináveis horas à beira da praia, sob o sol do Mediterrâneo. Tudo mudo quando seu pai resolve, subitamente, se casar com Anne, uma quarentona intelectual e classuda, que chega prometendo dar um basta à vida despreocupada e desregrada que a família levava.
Ao mesmo tempo em que admira e respeita Anne, Cécile se desespera ao ver que seus dias de vida fácil podem estar contados, e passa a arquitetar um plano para impedir que o casamento se concretize.
Escrita por alguém menos talentoso, essa história poderia até virar uma comédia pastelão, digna do pior que Hollywood pode produzir. Mas não é o caso de Françoise Sagan; o livro, mesmo com pouco mais de cem páginas, é de uma profundida espantosa, levemente erótico, levemente onírico, com passagens recheadas de ótimas reflexões, em especial sobre o choque geracional, sobre o tema central do livro: o conflito maturidade (de Anne) x imaturidade (de Cécile, pela idade, e de seu pai, que aos 40 e poucos anos ainda se comporta como um garoto). Nenhuma linha é desperdiçada, e o resultado final é arrebatador.
"Chega uma idade em que os homens não são mais atraentes, nem estão mais "em forma", como se diz. Não podem mais beber e ainda pensam em mulheres; mas acabam sendo obrigados a pagar-lhes, a aceitar inúmeros pequenos compromissos para escapar da solidão. Eles são enganados, infelizes. E é o momento que escolhem para se tornar sentimentais e exigentes... Vi muitos deles se transformarem em destroços".