Nathalia 28/06/2022
jurídico patricia noah
"RESENHA 1 (janeiro de 2021)
Trevor Noah tem sido meu crush famoso por um pouco mais de um ano e queria ler esse livro desde que eu soube que ele existia, então minha expectativas tavam bem altas. E eu sai daqui mais fã desse cara do que eu entrei. Eu acho tão lindo o quão claro ele tem as coisas da vida dele, como ele enxerga com clareza as coisas, sei lá, acho que eu queria ter essa clareza sobre as coisas da minha vida. Talvez com o tempo. Pra explicar melhor, eu sinto que por mais que a vida dele tenha sido difícil e que ele mesmo tenha feito escolhas questionáveis, o jeito como ele aborda os temas faz parecer que ele está muito em paz com o que aconteceu, e que ele realmente consegue ter uma distância da situação na qual ele consegue explorar a situação por uma visão meio sociológica, o que sem dúvidas é muito enriquecedor pro livro.
E sem dúvida eu passei a admirar muito mais ele pela relação dele com a mãe. Sou uma pessoa bem familiar então ver ele falar sobre a relação dele com a mãe foi bem emocionante, sem dúvidas também me tornei fã da Patricia Noah, ela é uma personagem incrivelmente interessante e o mais legal é: ela não é uma personagem (!). Ela é foda, não tem outra maneira de descrever, e preciso dizer que estou ansiosa pela adaptação cinematográfica por que a "jornada" dela é incrível, real e crua (e sem dúvida muito dolorosa), mas ver tudo do ponto de vista do Trevor é lindo. Ela deve ser uma mulher maravilhosa e eu sinto tanta admiração nas palavras dele que já tá me dando vontade de chorar.
Gosto de como cada capítulo funciona, com a primeira página preta meio que introduzindo o tema e dai ele conta uma história da vida dele que acaba por explicitar alguma coisa sobre a cultura sul-africana. É interessante porque não é sociológico usar a si mesmo como exemplo, mas ao mesmo tempo ele atinge objetivos sociológicos (ao meu ver pelo menos). O capítulo sobre o Teddy (acho que o nome é Daltonismo) faz isso brilhantemente - conta toda a história de uma amizade pra no final chegar no ponto que ele queria fazer e abordar a questão da cor ou do colorismo - ou seja aquele capítulo que ele conta toda a história do amigo trambiqueiro que achou uma menina bonita pra no baile com ele e no fim ela não falava a mesma língua que ele pra explicitar como a África do Sul é um país multicultural e com um monte de línguas diferentes. É brilhante porque ele "ensina" (talvez a palavra seja um pouco forte, mas acredito que para todo mundo que não viveu nesse contexto dele aprende com esse livro, porque ele é incrivelmente rico, ainda mais por além de trazer a experiência negra na África do Sul também traz a visão de uma pessoa miscigenada).
Como o Trevor tinha dificuldade pra se encaixar, mas ao mesmo tempo usava isso ao seu favor, isso tem a ver com o jeito que você encara a vida. Ele era um camaleão, se fosse eu no lugar dele eu ficaria desolada, mas acho que foi algo que ele teve que aprender a lidar também, e sem dúvida o jeito em como ele respondia a isso também. A mãe dele foi deixada pelo pai pra trabalhar numa fazenda longe de qualquer pessoa que ela conhecesse, mas eu sinto que ela criou ele com o intuito de quebrar ciclos e isso é muito lindo.
Resumindo aqui então, sou fã do Trevor, tô aqui pra tudo o que ele fizer, acho foda como ele usa humor pra abordar assuntos sérios e importantes, acho lindo ver a admiração dele pela mãe é incrivelmente emocionante. Acho um pouco cedo pra dizer que é o melhor livro do ano, mas os outros livro vão ter que correr pra ganhar desse aqui.
RESENHA 2 (junho de 2022)
Esse parágrafo, não faz parte da resenha. Ele existe porque existem coisas que eu preciso dizer antes de começar minha resenha. Essa é a primeira vez que eu re-resenho um livro. Eu li Nascido no Crime pela primeira vez um ano atrás e bem, basicamente, semana passada, na aula de inglês, a gente fez um teste vocacional do buzzfeed e o resultado do meu teste foi que eu deveria ser comediante. Eu não tenho nenhuma pretensão de ser comediante, até porque eu não tenho capacidade de me apresentar pra um grupo de 10 pessoas ou mais e acredito que isso possa ser um empecilho nesse tipo de carreira e eu também acho que eu tenho um pouco de orgulho demais pra conseguir fazer piada comigo mesma. Enfim, como eu tinha que fazer uma apresentação final pro inglês, eu decidi que eu iria fazer minha apresentação sobre um comediante. Eu tava com dificuldade de encontrar um tema pra a apresentação porque não queria babar ovo de estado-unidense, e daí falar do Trevor Noah serviu como uma luva. A partir daqui segue-se uma resenha que tem como intuito me ajudar a produzir minha apresentação sobre esse livro.
Segunda tentativa de fazer essa resenha porque na primeira eu devaneei demais sobre mim mesma e esqueci de falar sobre o livro. Basicamente eu tava falando sobre como ler sobre a experiência do Trevor me faz mais consciência sobre a minha própria… pele? raça? realidade? identidade? Talvez todos. Basicamente eu comecei falando sobre o dia em que eu me dei conta de que eu não era branca, mas daí eu me distraí a partir daí bastante.
O que a gente passa aqui no Brasil é muito diferente da África do Sul, Trevor é a falha do sistema por ser miscigenado enquanto no Brasil toda a política racial pós-escravidão girou em torno disso. Num mundo ideal, eu e o Trevor estamos na mesma posição, porque somos duas pessoas miscigenadas "na primeira geração" (filhos de pais de etnias diferentes é o que eu quero dizer), mas no mundo real, isso infere em situações bem diferentes.
Na primeira vez que eu li esse livro eu dei 5 estrelas e favoritei. O Trevor tem uma capacidade de contar uma história da vida dele com humor e verdade, ao mesmo tempo que consegue se distanciar suficientemente do acontecimento pra fazer inferências sobre como aquela situação se insere na cultura sócio-histórica da África do Sul. Acho esse movimento algo tão "elevado". Por isso eu dei 5 estrelas. O fato de eu não conseguir ligar nenhum acontecimento da minha vida em qualquer teia maior do que o arcabouço sociocultural da minha família me faz pensar que eu sou alguém muito privilegiada e que viveu a vida toda numa torre de marfim. E também me faz pensar que eu não reflito suficientemente sobre os acontecimentos da minha vida porque pensar sobre qualquer coisa da minha por mais de três minutos me dá uma crise de ansiedade a essa altura.
Mas tirando isso, eu vim aqui falar que minha avaliação desse livro caiu. Ele ainda tem um coraçãozinho porque eu ainda amo esse livro e o Trevor Noah é uma das poucas pessoas vivas que eu tenho a capacidade de falar que eu sou fã, mas acho que hoje eu daria 4 de 5 pro livro.
A primeira parte é exemplar, acho que tudo o que ele aborda ele faz excepcionalmente bem e tudo mais, mas na segunda parte eu sinto como se os pontos importantes de serem feitos já foram feitos e ele tá repetindo com uma roupagem adolescente. Talvez eu tenha essa visão porque eu romantize a infância e esteja pouco me lixando pra adolescência. Não é como se fosse de todo ruim também o capítulo da amoreira é ótimo, mas eu sinto que, por conta dele ter segurado tudo sobre a mãe dele pro último capítulo do livro, a segunda parte do livro ficou vazia… dela. Patricia Nombuyiselo Noah. Até porque eu disse isso ano passado e digo de novo agora: a principal personagem desse livro é a Patricia. Privar a gente dela é desapontante. Faz sentido, porque a figura de um pai é muito mais importante quando você é criança, mas acho que é algo pelo qual a gente passa por conta do livro ser de não-ficção.
Por conta do jeito que o Trevor escolheu estruturar os capítulos nas últimas duas partes, também achei que algumas coisas ficaram repetitivas.
Mas ainda amo o livro e super indico pra todo mundo que quer entender mais sobre a África do Sul, sem grandes pretensões - lembro que quando li pela primeira vez minha irmã tinha acabado de fazer um trabalho sobre urbanismo na África do Sul e muitas coisas que ela tava vendo tão presentes no livro também - principalmente sobre backyard dwellers."