A máquina de fazer espanhóis

A máquina de fazer espanhóis Valter Hugo Mãe




Resenhas - A Máquina de Fazer Espanhóis


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Day Mannrich 05/05/2024

Mexeu bastante comigo a visão sobre a vida de quem se está próximo da morte. Bem bonito e de fácil leitura.
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Andreia Santana 29/04/2024

A velhice sem metafísica
A máquina de fazer espanhóis é uma perfeição de romance sobre a solidão do envelhecimento e os sentimentos de culpa que corroem os dias e podem se transmutar em corvos que assombram as noites, na fase mais frágil e desamparada da vida.

O livro conta a história de Antônio Jorge Silva, barbeiro aposentado de 84 anos, que vai morar no Lar da Feliz Idade depois da morte da esposa Laura. Ele é levado para a casa de repouso pelos filhos, contra a própria vontade e, no início, resiste a interagir com os outros internos, até que estabelece uma nova rotina marcada por banhos de sol no jardim, visitas ao túmulo da mulher e conversas pontuadas por muita nostalgia e digressões filosóficas.

A resignação de Antônio Silva diante da nova realidade é lenta e acontece na medida em que ele vai se deixando seduzir pelas histórias dos demais velhos do asilo. Um deles é o centenário Esteves ‘sem metafísica’, que alega ser o personagem no qual Fernando Pessoa se inspirou ao compor o poema Tabacaria, em 1928, sob o heterônimo Álvaro de Campos – [“Não sou nada/Nunca serei nada/ Não posso querer ser nada/ À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo…”].

O texto sensível de Valter Hugo Mãe apresenta o aspecto mais cru e perverso da velhice, sem tabus. A memória falha, as doenças, o abandono pelos familiares, a infantilização, como se os idosos não tivessem mais direito a uma voz e tomadas de decisão; o tom paternalista que médicos, enfermeiros e funcionários de asilo costumam usar quando lhes dirigem a palavra, as reprimendas como se todos tivessem voltado a ser criança, a revolta e até um ódio venenoso que se espalha pela alma, diante da perda da força física e da autonomia.

Ainda apaixonado pela esposa depois de 50 anos de vida em comum, o senhor Silva, como é chamado no lar por funcionários e companheiros, não consegue aceitar a partida de Laura, ao mesmo tempo em que deseja ardentemente juntar-se a ela. A história é narrada por ele, que alterna suas memórias da vida em família, sob a ditadura salazarista, e o cotidiano do asilo, no presente. É pela voz de Antônio que o leitor conhece as histórias dos demais moradores do Feliz Idade. Essa voz hora é travessa como a de uma criança, hora amargurada e melancólica.

Em meio a uma rotina entediante na casa de repouso, os velhos são divididos em duas alas. Do lado direito, com vista para o jardim, ficam os saudáveis; e do lado esquerdo, com a paisagem do cemitério, os acamados. Silva está convencido de que ao transferir os idosos para o setor dos doentes, o objetivo é matá-los a partir de uma máquina que tira a metafísica dos homens ou que transforma portugueses em espanhóis. Furtivamente, ele e os amigos costumam se esgueirar pelo corredor dos moribundos, convencidos de que algo sinistro ronda aqueles idosos inertes.

Nos banhos de sol – referência clara à rotina dos presídios, revelando a dupla prisão no confinamento do asilo e no próprio corpo que se deteriora -, os idosos recordam as décadas da ditadura e o quanto foram ou não ‘cúmplices’ do regime. Antônio Silva, insone e dado a pesadelos, é quem tem mais culpas a expiar e, internamente, se ressente das decisões que tomou e das que deixou de tomar, por covardia e acomodação, durante os anos mais difíceis do salazarismo.

Com exceção das desconfianças dos velhos com os médicos e tratamentos, e da mistura do medo da morte com o desejo de descanso eterno das labutas de suas vidas; além do ritmo lento que o tempo assume em uma casa de repouso, A máquina de fazer espanhóis é um livro sem grandes reviravoltas, mas cheio de significados.

É uma história muito mais de sentimentos que de ação. E nos leva a pensar na velhice sob a perspectiva dos próprios idosos. Se esse livro tem uma lição a ensinar, é a de que o envelhecimento sempre cobra a conta dos dias de juventude. Chegar à ‘feliz idade’ sem amarguras ou remorsos é uma dádiva que precisa ser construída décadas antes dos primeiros sinais de declínio…

Ficha Técnica:
A máquina de fazer espanhóis
Autor: Valter Hugo Mãe
Editora: Biblioteca Azul, 2016
264 páginas
R$ 55,92 (livro físico, Amazon), R$ 29,94 (e-book, Kindle) ou e-book disponível para assinantes do Skeelo

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*Lido para o desafio #50livrosate50anos, brincadeira que criei para comemorar meu aniversário. Em abril de 2024 eu faço 50 anos. A ideia é ler 50 livros até 30/04 e, se possível, resenhar ou fazer algum breve comentário aqui no Skoob e no Instagram, sobre cada um deles. A máquina de fazer espanhóis é o livro 45 do desafio. Faltam 05 para finalizar a leitura e postar.

site: https://mardehistorias.wordpress.com/
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Isabela Araujo 27/04/2024

Tudo que eu descobri lendo esse livro é que eu não tenho capacidade intelectual o suficiente pra entender esse tipo de linguagem.
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Beta 22/04/2024

Lindo e reflexivo
O livro conta a história de Silva, um idoso que ao perder a sua esposa vai morar em um lar de idosos.
Fiquei bastante reflexiva sobre a vida e como tratamos os idosos. O livro é difícil de ler, pelas particularidades de escrita do autor, então tive que voltar algumas vezes em vários trechos para entender. O final para mim ainda deixou aberto para várias interpretações, mas é um livro poético e gostoso, uma obra-prima.
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AnneXavier 10/04/2024

??E eu acabara de aprender que a vida tem que ser mais à deriva, mais ao acaso, porque quem se guarda de tudo foge de tudo.?

Esperava mais desse livro. Achei a narrativa um pouco cansativa, mas com boas reflexões sobre a velhice e a morte.
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Gabriela.Andrade 31/03/2024

Livro belíssimo! Trata de um tema que é um tabu na nossa sociedade, a gente não quer pensar (pelo menos eu não gosto) que um dia nossos pais serão velhos e nós também, e talvez quem sabe iremos para um asilo?

Então é uma história diferente da que costumamos encontrar por aí, e se Saramago elogiou o autor, daí você já tira que o livro deve ser no mínimo interessante!

Recomendo
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gio 29/03/2024

Velhice e o desejo pela memória de peixe
?sabes que os peixes têm uma memória de segundos. aqueles peixes bonitos que vês dentro dos aquários pequenos, sabes que têm uma memória de uns segundos, três segundos, assim. é por isso que não ficam loucos dentro daqueles aquários sem espaço, porque a cada três segundos estão como num lugar que nunca viram e podem explorar. devíamos ser assim, a cada três segundos ficávamos impressionados com a mais pequena manifestação de vida, porque a mais ridícula coisa na primeira imagem seria uma explosão fulgurante da percepção de estar vivo. compreendes. a cada três segundos experimentávamos a poderosa sensação de vivermos, sem importância para mais nada, apenas o assombro dessa constatação. o américo respondeu-me, seria uma pena que não se voltasse a lembrar de mim, senhor silva, não gosto dessa teoria dos peixes, porque assim não se lembraria de mim.?

simplesmente valter hugo mãe. estou sem palavras depois desse livro. só gostaria de deixar esse trecho aqui pra vcs (e para minha eu do futuro) sentirem o rajadao dessa leitura e o poder da escrita desse homem.
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Laryssa 24/03/2024

VHM nunca decepciona? sempre ótimas histórias, com uma escrita sensível. E é preciso muita sensibilidade mesmo para falar sobre o processo de envelhecimento e o que o atravessa. Encarar a morte e, a partir disso, pensar no que se fez com a vida.
Me lembrou um pouco o filme ?Amour?, do Michael Haneke; e também um trecho de um poema da Wislawa Szymborska: ?A eternidade dos mortos tem sustento
enquanto são pagos com memória terna?.
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bia 23/03/2024

Um POV sobre envelhecer
Um livro pra gargalhar com as conversas entre os amigos Silva, Pereira, Anisio e Silva da Europa gozando de seus colegas do asilo que moram e ao mesmo tempo pra chorar de soluçar com as reflexões profundas sobre a vida e a morte, amor? vindas do personagem principal.
Sr Silva depois de perder a esposa, Laura, vai morar no Feliz Idade contra a sua vontade, a ?pedido? da filha.
Contrariado de início, descobre a beleza de um outro estilo de vida, rodeado de amigos e histórias. Apesar de feliz, sente a morte se aproximando a cada instante enquanto divide com o leitor suas observações do presente e lembranças do passado.
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Julia5049 18/03/2024

Máquina de fazer espanhóis
Demorei um pouco para me acostumar com o estilo da leitura. Sem letras maiúsculas, travessão e etc. Depois de alguns capítulos a leitura fluiu tão bem que parecia uma conversa informal e sentia que estava no lar de idosos com eles.
Uma obra linda, sensível, engraçada e reflexiva.
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AmandaRabelom 17/03/2024

Que livro! A escrita realmente apresenta uma certa dificuldade, reduzindo a velocidade da leitura, já que não são usados travessões nem maiusculas, precisei de algumas páginas para entender os diálogos de forma mais natural. Tirando isso (não que seja um defeito, mas éuma dificuldade para quem lê), a escrita é incrível, poética, com frases tão reflexivas e bonitas. O livro de uma forma geral é muito reflexivo e bonito, com metáforas inteligentes. E o tema então, muito importante e abordado de uma forma não convencional.
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Priscila.Mastranto 16/03/2024

Ensaio sobre a velhice
O livro conta a história de um senhor que fica viúvo e meses depois se encontra em um lar de idosos. Lá ele faz amizades e imagina muitas coisas típicas do avanço da idade. No lar Feliz Idade ele também relata as angústias do envelhecimento, de uma forma triste mas por vezes bem humorada também.
O autor escreve somente com letras minúsculas e sem usar travessões, exclamações ou interrogações.
É um bom livro mas não consegui me apegar muito aos personagens, e em alguns momentos achei a leitura cansativa.
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Avner 05/03/2024

Vida e Morte
Mais uma vez fui abraçado e encantado por um livro de Valter Hugo Mãe, um dos autores contemporâneos que mais amo. Um novo encontro com uma escrita única e sensibilidade que conseguem me deixar boquiaberto em muitas passagens.

Em ?Máquina de Fazer Espanhóis? acompanhamos a narrativa em primeira pessoa do protagonista Silva, que é colocado em uma casa de repouso pela família já com seus mais de 80 anos após a morte de sua esposa (obs.: comecei chorando no primeiro capítulo). Em seus relatos conseguimos entender e sentir um pouco (mais uma vez o poder da empatia que a literatura proporciona) de suas dúvidas, convicções, dores, reflexões e sim, de suas alegrias. E também de seus companheiros naquele local, que são tão interessantes e curiosos quanto Silva. Não vou falar muito mais sobre para não contar acontecimentos do livro.

É um tema importante, a vida na terceira idade, tratado de uma forma tão dolorosa quanto bonita. Muito se reflete sobre a morte, mas também sobre o quanto de vida ainda existe, mesmo quando não conseguimos imaginar mais. Tudo isso, repito, com uma sensibilidade e escrita fascinantes. Recomendadíssimo!
edu basílio 05/03/2024minha estante
que bacana seus comentários ? eu gosto muito do VHM, acho "o filho de mil homens" e "a desumanização" duas preciosidades de beleza e dor misturadas. você já leu mais algo dele?


edu basílio 05/03/2024minha estante
muito legais seus comentários ?? eu gosto muito do VHM; acho "o filho de mil homens" e "a desumanização" duas preciosidades de beleza e dor misturadas... você já leu mais algo dele?


Avner 05/03/2024minha estante
Já li ?O Filho de Mil Homens? e é um dos meus livros favoritos da vida! ?A Desumanização? ainda não li, mas tenho aqui e já está separado pra ler em breve!! ? Ler VHM sempre é um acontecimento de sensibilidade.


edu basílio 05/03/2024minha estante
ah, então você sabe com perfeição do que estou falando quando falo de "o filho de mil homens"... ? desejo muito que, quando você ler "a desumanização", seu coração vibre e se aperte e se contorça pelo menos tanto quanto ocorreu com o meu! ??




pedro b 29/02/2024

No começo, a escrita do autor incomoda e confunde, mas rapidinho eu me apaixonei pelas letras minúsculas, pela ausência de travessões e aspas,
é um livro muito sensível, e a forma como o luto e a saudade são tratados de uma forma que me fascinaram.
devorei o livro (pro meu padrão de leitura) e era difícil ler só um capítulo por vez.
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Flá Costa 28/02/2024

Quanta beleza cabe em um livro?
A Máquina de Fazer Espanhóis é o segundo livro que leio de VHM e sigo não me arrependendo. De alguma forma o enredo é o que menos importa: a maneira como ele escreve é o que vale a pena. Algo parecido com Clarice Lispector, e já peço perdão pela associação.
É um livro lindo, doído, que trata do luto de um jeito que só quem já foi devastado por ele poderá entender. E fala da velhice, do tempo, de amizades verdadeiras. É uma obra maravilhosa da língua portuguesa!
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