Uma solidão ruidosa

Uma solidão ruidosa Bohumil Hrabal




Resenhas - Uma Solidão Ruidosa


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Estrobooks 03/05/2023

Hant'a trabalha há 35 anos compactando papéis velhos e livros em uma prensa hidráulica. O ofício em um porão infestado por ratos o coloca em contato com os cânones da literatura, em uma viagem interior profunda e solitária.

Imagine encontrar centenas, senão milhares de edições raras, com o selo da biblioteca real prussiana, sendo direcionadas à destruição... Na então Tchecoslováquia do período pós-guerra, essa é a realidade de Hant'a. Apesar de nem sempre ser bem sucedido, ele consegue salvar mais de 3 toneladas de livros raros.

Suas relações pessoais são escassas, sendo seu chefe o contato humano mais estável e permanente de sua vida. Outro laço importante se dá com uma garota cigana. Essa cultura, aliás, é exposta na obra de um modo muito belo e sensível.

O final não faz muito o meu tipo, mas tenho aprendido a respeitar a visão dos autores. Tarefa árdua essa ? mas adorei a experiência de leitura. Para quem gosta de ler livros sobre livros, é uma ótima opção! Uma solidão ruidosa é uma narrativa breve e cativante sobre o amor aos livros e à criação literária.
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Nazrat 15/04/2022

Sobre livros
Um livro sobre livros e a experiência de (evitar) destruí-los e ser influenciado por eles. Interessante como funcionou o fluxo de consciência do personagem e a forma lírica como ele é retratado e retrata seu ambiente.
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Henrique Fendrich 26/02/2021

Prosa e trama interessantes as desse tcheco. Em um estilo um tanto onírico, por vezes em um fluxo de consciência bem envolvente, Hrabal conta a história de um sujeito que há 35 anos trabalha com uma prensa hidráulica de reciclagem e para ele chegam muitos livros clássicos e eruditos cuja publicação havia sido proibida pela ditadura na Tchecoslováquia.

Pois o nosso homem salva vários desses livros, passa a lê-los e com isso consegue um grau mais elevado de conhecimento e mesmo de filosofia. Isso, no entanto, de pouco lhe vale, pois continua trabalhando em um porão imundo e afastado da vida, tendo como companhia apenas os ratos, a bebida e as lembranças, como as de uma antiga cigana que lhe passou pelo caminho há muito tempo, ou de uma mulher que ele perdeu em circunstâncias tragicômicas.

Seria de se pensar que iria se aposentar nesse trabalho e com essa vida, mas o destino prega algumas peças e conduz a um desfecho de certa forma inevitável.

Tive a impressão de que isso ficaria muito bom em um filme e soube que há efetivamente uma obra inspirada no livro. Quem sabe eu veja um dia.
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Paulo Sousa 25/04/2020

Uma solidão ruidosa
Leitura 21/2020
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Uma solidão ruidosa [1976]
Orig. P?íli? hlu?ná samota
Bohumil Hrabal (Tchéquia, 1914-1997)
Companhia das Letras, 2010, 106 p.
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?Consigo ficar no meu canto porque nunca estou solitário, mas apenas sozinho, vivendo na minha solidão densamente povoada, uma farândola de infinito e eternidade, e o Infinito e a Eternidade parecem gostar de tipos como eu? (pág. 15).
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O livro narra a história de Ha?ta, um operário a cujo ofício consiste em prensar e destruir livros num cubículo no subsolo de Praga. Ele mantém, nos trinta e cinco anos de profissão, o hábito de ?salvar? alguns exemplares que lê e cultua: textos de Hegel, de Camus, de Kant, entre tantos outros, são salvos da máquina faminta por destruição e guardados com carinho pelo velho operário num amontoado disforme e poético, infestado de ratos curiosos e presenças surreais.
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O hábito de uma vida toda acaba sofrendo um grande baque: máquinas mais poderosas que a sua, capazes de triturar muito mais livros em muito menos tempo logo chegam para substituir e modernizar o emprego de Ha?ta, que se vê traído e roubado por sua súbita substituição por empregados mais jovens e qualificados. Uma velha guarda de prensadores que ora é trocada por garotos que bebem leite e não conhecem o verdadeiro sentido do que estão fazendo, como ele.
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O livro é construído com uma mistura de humor, fantasia e delírio. A saga de Ha?ta pode muito bem retratar os dias nebulosos da guerra e da cortina de aço que buscou calar e relegar ao esquecimento os intelectuais do Leste Europeu. Misturando fantasia e delírio, o cenário de caos e destruição ao redor do personagem é uma dura e curta mensagem das experiências pessoais do autor, que afirma que este ótimo livro foi a obra de toda uma vida.
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Isso me remete a outros colossos da literatura, contemporâneos e partícipes como Hrabal da angustiante e difícil missão que era escrever seus livros sem o receio de que fossem confiscados pela censura. Kundera, o próprio Kafka, Aaron Appelfeld, Ivan Klima, todos tiveram de reinventar sua prosa, buscaram em pequenas fímbrias e limitados espaços os vagos deixados pelo cerceamento intelectual para que pudessem veicular seu mudo clamor através das letras. A metáfora, o fantástico, o cômico, o hilário, todos foram elementos que lhes deram forças para narrar o horror da guerra e das atrocidades que viram e viveram. Foram gigantes num tempo em que a pequenez mesquinha de governos totalitários buscaram varrer a memória e a palavra. Fizeram do silêncio gritos de alerta; da aparente solidão, ruidosas alegrias. Vale!
Karamaru 25/04/2020minha estante
Recomenda?


Paulo Sousa 02/05/2020minha estante
Sem pestanejar, Karamuru!


Karamaru 02/05/2020minha estante
Muito obrigado ?


Paulo Sousa 02/05/2020minha estante
;)




Aline Teodosio @leituras.da.aline 13/11/2019

Publicado no ano de 1976, na antiga Tchecoslováquia, durante a então vigente União Soviética, esse romance relata a vida de Hanta, um homem solitário que há 35 anos trabalha em um velho porão, operando uma velha prensa, destruindo pilhas de velhos papeis.

Suas únicas companhias são os ratos e os livros proibidos condenados à destruição pelo regime ditatorial. Embora Hanta tivesse pouca instrução, por meio desses "salvamentos" adquiria uma grande sabedoria, que despertava seu senso crítico e o deixava ciente de que a ignorância era sempre mais prejudicial para o ser humano do que o conhecimento.

E os livros proibidos tinham um fim justamente porque suscitavam essa criticidade e esse poder reflexivo. Para Hanta, mais antes estar em um compartimento infecto, porém com conhecimento, que imerso na escuridão da ignorância. Por falar em conhecimento, o livro, embora curto, é de uma densidade e complexidade imensa, que traz diversas referências aos grandes filósofos e às obras renomadas.

"Sempre me espantei com Hegel e com o que ele me ensinou, ou seja, que a única coisa no mundo digna de medo é uma situação petrificada, congelada ou moribunda, e a única coisa digna de alegria é uma situação em que não apenas o indivíduo mas também a sociedade travam uma batalha constante para se justificarem."

E assim vivia Hanta, "pensando na melancolia de um mundo eternamente em construção". Sua solidão era estar sufocado num mundo em que ele jamais se encaixou. E, diante de tanto pessimismo, não poderia ter um desfecho mais espetacular, um dos finais mais impactantes que já li.
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Lili 24/04/2019

Filosófico
Trata-se de uma obra para um público muito específico. Denso emocionalmente, com muitas referências para quem gosta de leituras filosóficas clássicas e com um grande poder de critica politicosocial.
Uma obra inquestionável, mas seletiva. Não que isso seja ruim,
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Andreia Santana 07/08/2016

Máquina de moer pensamentos
Uma solidão ruidosa é uma comovente e lírica cerimônia de adeus à liberdade de expressão, ao ato de pensar, ao que nos torna humanos. Publicado na antiga Tchecoslováquia em plena vigência da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), o livro conta a história de Hanta, um homem que há 35 anos opera uma prensa hidráulica de compactar papel, usada para destruir livros considerados 'perigosos' pelo sistema político vigente.

Sozinho em um porão imundo e infestado de ratos, ouvindo dia e noite o ruído da prensa mastigando quilos e mais quilos de papel, Hanta mantém uma arriscada operação para resgatar da morte os livros condenados, enquanto se afoga em litros e mais litros de cerveja. Apesar de não ter tido uma educação formal, ele começa a ler as obras que deveria destruir e conduzido pelos autores 'perigosos', percebe a realidade sufocante e opressiva em que vive. Mas embora a perceba, está amarrado a essa existência miserável, "esperando a aposentadoria ou a morte, o que chegar primeiro".

A solidão de Hanta é densa e angustiante. Sua vida se resume a beber, compactar papel e filosofar, a ponto de perder a noção dos próprios pensamentos e não discernir o que vem dele mesmo e o que foi adquirido com as leituras clandestinas. As únicas interações humanas se resumem a visitar um tio, ex-maquinista, que ainda vive preso à antiga rotina da estação de trens, duas ciganas que sobrevivem de catar papel para alimentar a prensa e um ex-professor universitário que perdeu o juízo junto com o cargo.

Hanta é um homem simples, resignado com sua vida miserável, preso a ela como os ratos que escalam as pilhas gigantescas de papel e vez por outra são esmagados pela prensa ou por um desabamento das montanhas de palavras que crescem a uma altura vertiginosa. Ele tem consciência da ratoeira (porão) onde vive preso, mas está condicionado a essa prisão. Por mais que alimente a prensa (o sistema), a máquina nunca fica saciada e segue devorando letras, sílabas, frases (espíritos) e lombadas (carne e ossos). Não há revolta ou questionamento, apenas dor e resignação.

Ameaçado de perder o emprego para trabalhadores mais jovens, robotizados e padronizados pelo regime, eficientes operários que apertam botões de máquinas mais modernas que a sua velha companheira enferrujada no porão, Hanta delira e imagina uma grande prensa a devorar a cidade de Praga e todos os seus habitantes, seus legados, a cultura, a individualidade e as particularidades que fazem de cada criatura um ser único, de cada país e cada povo um universo a descobrir.

Sobre a própria cabeça, no minúsculo apartamento em que dorme quando o expediente no porão termina, ele mantém uma espada de Dâmocles representada por prateleiras instaladas sobre a própria cama, com as duas toneladas de livros que salvou da compactação. Em seus delírios, imagina-se esmagado por todo aquele conhecimento acumulado.

Se a ignorância oprime, não ter ciência da opressão, ou estar anestesiado pela noção de cumprir um dever cívico, pode ser uma benção para o indivíduo e uma maldição para a humanidade. Vide os jovens operários destruindo livros eficientemente, sem a menor curiosidade em saber o que suas páginas contém. E para cada pacote que vira uma massa indistinta de celulose, Hanta sangra na alma, justamente por não ser ignorante do significado dessa ação, mas por faltar coragem para mudar o rumo das coisas.

O fato de intuir o que será do futuro da humanidade sem o conhecimento negado pelo sistema, gera um desconforto que enlouquece, como ocorre com o velho professor universitário que vive a caçar antigos exemplares de jornais filosóficos banidos.

Embora trate de uma realidade específica, Uma solidão ruidosa fala uma língua universal, aquela que diz que o conhecimento, por mais doloroso que seja, é menos perigoso e preferível à ignorância.

Com regimes totalitários, sejam de esquerda, direita, centro, ou mais contemporaneamente, com a globalização e sua 'cultura mais do mesmo', o que acontece é justamente a anulação das individualidades, seguida da aniquilação da cultura única de cada povo. Desumanizar para controlar é o lema. E quando deixamos de ser humanos, a solidão tranquila da meditação ou o aconchego da leitura, dá lugar ao vazio torturado dia e noite pelo som de uma prensa que mastiga livros e engole espíritos.

site: https://mardehistorias.wordpress.com/
Marta Skoober 15/08/2016minha estante
Estava curiosa para ler sua opinião desde que vi o post no IG.
Excelente resenha, Andreia!


Andreia Santana 16/08/2016minha estante
Obrigada, Marta :) Esse livro mexeu comigo!!


Arthur 23/07/2018minha estante
gostei bastante da sua resenha!




Silvana (@delivroemlivro) 25/11/2012

Quer ler um trecho desse livro (selecionado pelos leitores aqui do SKOOB) antes de decidir levá-lo ou não para casa?
Então acesse o Blog do Grupo Coleção de Frases & Trechos Inesquecíveis: Seleção dos Leitores: http://colecaofrasestrechoselecaodosleitores.blogspot.com.br/2012/09/uma-solidao-ruidosa-bohumil-hrabal.html

Gostou? Então também siga e curta:
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Tks!
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Tórtoro 17/09/2010

UMA SOLIDÃO RUIDOSA: UM PORRE DE REALISMO MÁGICO

“Quando meu olho pousa em um livro real e olha a palavra impressa, o que ele vê são pensamentos descarnados voando pelos ares, deslizando no ar, vivendo do ar, voltando para o ar, pois, no fim, tudo é ar”.

Bohumil Hrabal

Pela primeira vez em minha sexagenária existência, terminei de ler um livro e, imediatamente, voltei à sua primeira página para recomeçar a leitura: e faria isso mais vezes com enorme satisfação.
Essa foi a reação causada em mim por um dos últimos trabalhos de um dos mais importantes autores tchecos contemporâneos, Uma solidão ruidosa, publicado em 1976, que parece, à primeira vista, produto clandestino de um país sob um regime repressivo, como o que vigorava na então Tchecoslováquia soviética. No entanto, passados mais de trinta anos do fim do comunismo no país que acabou se dividindo em duas nações distintas, o relato de Bohumil Hrabal pode ser lido como um dos momentos altos de um tipo de realismo mágico típico dos países da Europa central e do leste.
O narrador, Hanta, passou os últimos 35 anos de sua vida compactando papel usado em uma velha prensa hidráulica, num porão de Praga, infestado de ratos: “ser compactador é um serviços que requer não apenas uma educação clássica, de preferência em nível universitário, mas também um diploma de teologia, porque na minha profissão a espiral e o círculo se juntam, o progressus ad futurum encontra o regressus ad originem”. Durante esse período, Hanta aproveitou para salvar da destruição mais de 3 toneladas de livros raros, possivelmente banidos pelo regime, que ele acabou sorvendo junto com os milhares de litros de cerveja que faziam a alegria de sua alma atormentada. Parte desses livros — Aristóteles, Nietzsche e Goethe são apenas alguns dos autores — Hanta vende para um professor, outra parte é doada a um amigo. O resto permanece estocado precária e ameaçadoramente acima de sua cama, no minúsculo apartamento onde mora.
As mulheres de sua vida — uma anônima garota cigana e a infeliz Mancinka — junto com seu chefe e ele mesmo, entre outros personagens — o cigano fotógrafo com óculos de armação dourada, as ciganas azul-turquesa e violeta aveludada, o professor de Filosofia, as presenças etéreas de Jesus e Laozi ao lado da prensa — formam uma galeria humana bizarra e variada que garante a Uma solidão ruidosa o status de genuína pérola literária, concisa e muito poderosa. Seus temas de fundo, vastos e evocativos para o leitor de qualquer época, vão da persistência da memória à evanescência de todo texto literário, das inconsistências do desejo à implacabilidade de uma tecnologia dominada por burocratas insensíveis — a prensa de Bunny sustituindo trabalho de 20 prensas comuns, nas mãos dos jovens da Brigada de Trabalho Socialista — , que acabam ameaçando a própria vida do fabuloso Hanta.
Ler essa obra de Hanta: “É como jogar lindas frase na boca e chupá-las como balas de fruta, ou sorvê-las como licor, até o pensamento se dissolver em nós feito álcool, infundindo-se no cérebro e no coração e atravessando as veias até a raiz de cada vaso sanguíneo”.
Enfim, Hanta pode ser um idiota encharcado de cerveja, como diz seu chefe, — um idiota diferente, capaz de citar o Talmude, Hegel e Kant com sua cultura bizarra e desorganizada, subproduto do trabalho braçal que desempenha — mas deixará marcas indeléveis na alma e no coração daqueles que amam os livros.


ANTÔNIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
www.tortoro.com.br

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