TMLQA 04/06/2015
RESENHA - SKOOB3RS
Condizente com a epígrafe - a preocupante questão brechtiana que Ricardo Piglia adora repetir ("O que é roubar um banco comparado a abrir um banco?) -, Dinheiro queimado mancha o leitor com a cor do mais sujo dos dinheiros. O romance é um exercício de ficção documental ou reportagem, inspirado por um acontecimento que chocou a sociedade argentina na época: o roubo a um banco de Buenos Aires em setembro de 1965, planejado em conluio por delinquentes, políticos e polícia. A história de violência, corrupção e traição termina em Montevidéu, num conflito feroz e sanguinário que acaba com os criminosos, com o dinheiro e com qualquer resquício de verdade.
Piglia começou a escrever o romance logo depois do acontecido, mas esperou 30 anos para publicá-lo, e nesse tempo os limites entre fato e ficção desapareceram. A reconstrução das circunstâncias do assalto, a relação entre os homens (a mulher no grupo foi algo casual) e a origem social que sustenta a ação são estruturadas por um convincente exercício estilístico. Os eventos são quase sempre vistos pela perspectiva de um personagem recorrente nos romances de Piglia: Emilio Renzi, um jovem jornalista na época que, confiando em documentos minuciosamente detalhados e em depoimentos que acompanha, confirma esse poema épico que termina em cinzas. Longe de ser um relato frio dos acontecimentos, a história dá vida a um período sombrio que estava se afundando cada vez mais em violência e corrupção.
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