Fernanda631 31/07/2023
Os Quatro Grandes
Os Quatro Grandes foi escrito por Agatha Christie e foi publicado em 27 de janeiro de 1927.
Espionagem, intrigas internacionais e uma linda relação de amizade é o que você vai encontrar nessa trama repleta de ação.
Em “Os Quatro Grandes” temos o reencontro da dupla mais perfeita desse mundo, Poirot e Hastings.
“Os Quatro Grandes” é mais um caso do incomparável Hercule Poirot em companhia do adorável Capitão Hastings. Para quem não está familiarizado com a obra de Agatha Christie, Arthur Hasting é amigo de Poirot e personagem recorrente em algumas aventuras. Leal e inocente, é sempre um toque especial nos livros em que participa.
Em “Os Quatro Grandes” os dois enfrentam uma organização criminosa internacional formada pelo número 1, um chinês poderoso, conhecido como o cérebro do oriente; o número 2, um americano rico; o numero 3, uma mulher francesa; e o número quatro, que vem a ser o grande inimigo de Poirot nessa aventura: um mestre nos disfarces conhecido como “Destruidor” (o apelido dispensa explicações).
Na aventura, Poirot e Hastings contam ainda com a participação do inspetor-chefe Japp, detetive da Scotland Yard que também é conhecido dos fãs de Agatha, e se deparam com diversos casos que tem os Quatro Grandes como responsáveis.
Publicado primeiramente, em 12 partes separadas, pela revista Sketch em 1924, “Os Quatro Grandes” só virou livro em janeiro de 1927. Christie passava por um período difícil de sua vida, no qual tinha perdido a mãe e enfrentava a separação do primeiro marido, Archibald Christie. Como ela precisava ganhar dinheiro, seu cunhado sugeriu a junção das partes publicadas anteriormente pela revista e contribuiu com o processo de revisão.
A Agatha trouxe muitos elementos históricos e personalidades importantes para a narrativa. Fica evidente que, por ter sido escrita no entreguerras, a obra transparece o medo de conspirações e preocupações com ameaças externas que existia naquela época.
Diferente das obras anteriores e sem o elemento “who done it” (quem fez isso) que consagrou a autora, encontramos nesse livro muita ação para desmascarar uma organização criminosa mundial formada por quatro figuras importantíssimas para o contexto da época.
Poirot não conseguiu ficar sentado em seu escritório apenas usando suas pequenas células cinzentas. Ele precisou agir, viajar para vários países, escapar de várias armadilhas e, no caminho, desvendar quatro casos intrigantes. Tudo isso, com seu fiel amigo, Hastings, que brilhou lindamente nesse livro. Muito astuto e corajoso! Fiquei extremamente orgulhosa com as decisões que ele tomou ao longo da trama.
Outro aspecto que me agradou profundamente foi a representatividade feminina, explorada com a presença de uma cientista brilhante como uma das cabeças da organização criminosa. A referência para a criação dessa personagem é incrível: nada menos que a francesa Marie Curie, pioneira nos estudos da radioatividade e ganhadora do Nobel de Física e de Química.
Tudo o que o Poirot e o Hastings fizeram um para o outro foi fabuloso e muito significativo.
Nesse livro a autora utiliza os caminhos literários de espionagem instituídos durante a Primeira Guerra Mundial e adiciona o seu olhar de burguesa europeia ao olhar para a Revolução Russa (mais especificamente, a Revolução de Outubro), e criar um grande elemento ameaçador aos governos Ocidentais, centrando, para marcar o exotismo da obra, o grande cabeça do grupo na China. Li Chang Yen é o nome desse grande cérebro que nunca dá as caras mas que está por trás de tudo o que acontece nos caminhos da política, das bolsas de valores e das guerras naquela conjuntura. Ao seu lado estão o americano Abe Ryland, o “Rei do Sabão”, dito mais rico que Rockefeller; a cientista francesa Madame Olivier, dita mais genial que Marie Curie; e o obscuro mas simplesmente imbatível ator britânico Claude Darrell, um mestre dos disfarces conhecido como O Destruidor.
Em muitos momentos da história eu imaginei estar lendo alguma trama de Arsène Lupin ou, pensando muito mais à frente, alguma história clássica de Diabolik, tamanha a quantidade de reviravoltas, mudanças de personalidade e aventuras dentro de aventuras que a gente tem nessas páginas. O fato de o livro ser uma costura de contos permitiu ainda mais essa impressão de tramas diluídas, carregando problemas de construção no enredo, como personagens que não possuem peso algum; investigações internas que só servem de distração e, o pior de todos os problemas do livro, o final muito corrido — especialmente se considerarmos o épico encaminhamento que a autora deu para a presença de Poirot no mesmo local que os 4 Grandes, ao cabo da aventura.
O encerramento da obra traz uma declaração bastante interessante do detetive belga, que diz que, após esse caso, irá se aposentar e plantar abobrinhas, o que coloca essa aventura, estendida ao longo de vários meses, cronologicamente antes de O Assassinato de Roger Ackroyd, onde vemos, de fato, o detetive aposentado no interior da Inglaterra e plantando abobrinhas. Os Quatro Grandes é um livro muito diferente de tudo o que estamos acostumados da Rainha do Crime.
Não é uma obra que eu apresentaria para marinheiros de primeira viagem na bibliografia da autora, mas apesar de ser uma de suas produções menos comentadas e talvez mais desprezadas, é uma das que eu indico fortemente para os já iniciados.