Betega 08/09/2021
Mais do que uma história sobre vingança. E também uma ótima história sobre vingança.
Ao começar a leitura de um livro seminal, devemos ter uma coisa em mente: encontraremos tudo o que estamos acostumados a ver separadamente em diversas histórias do estilo, num livro só.
Não adianta ler se não vai ter paciência para os "clichês" do livro, os quais talvez nem devam ser chamados assim, uma vez que o livro, se não for a origem de todas essas ferramentas, é certamente o trabalho que consagrou a maioria delas.
Dito isso, o Conde de Monte Cristo é um livro sobre vingança. Após uma série de azares colocar Edmond Dantes na cadeia injustamente, uma série de eventos positivos o coloca livre e em condições de presentear aqueles que lhe foram leais e se vingar daqueles que o traíram.
Apesar de suas 52 horas no formato audiolivro, a história é bem densa. Não é cansativa e não tem "fillers", com o perdão pelo inglês. Segue num ritmo excelente, pelo menos até o início do plano de vingança.
Depois, não é que mude algo no estilo de narração mas, pelo menos para mim, toda a preparação da vingança foi um pouco cansativa, mesmo sem palavras desperdiçadas. E, finalmente, na execução do plano, o livro volta a fluir muito bem.
Uma coisa que nunca entendi nas histórias sobre vingança é a necessidade de um plano tão complexo. Isso vale para livros, novelas da Globo etc., e não é diferente com o Conde de Monte Cristo.
No mais, os personagens do livro são, em geral, muito interessantes. Aparentemente, Dumas os aprofundou conforme a necessidade da trama, de modo que alguns deles são mais complexos, ou mais bem descritos em suas histórias e sentimentos que outros. Falando assim parece algo normal de qualquer livro, mas existe algo no Conde... que faz esse fato chamar a atenção. Talvez o exagero na simplicidade de alguns deles, não sei dizer precisamente. Mas isso não chega a desmerecer o livro ou ocupar a mente do leitor por muito tempo (pelo menos não ocupou a minha).
Como todo bom livro muito antigo, tem um pouco de lição de história. Sobre a diferença nos costumes entre França e Itália do século XIX, Sobre as pessoas costumarem naturalmente viver de renda, conforme Thomas Piketty já apontou se baseando em Jane Austen e Balzac. Sobre o conceito de honra no século XIX. Entre outras coisas. Entre muitas outras coisas.
Sem dúvida uma leitura que vale a pena, mesmo considerando o tanto de tempo investido. Um livro que tem foco na trama de vingança, mas que apresenta muito mais que isso para o leitor aproveitar, sem nunca deixar de funcionar muito bem no drama/suspense que é a linha mestra da história.