Thales 06/08/2023
Herói do seu tempo.
Há ditado que diz "heróis em tempo de guerra, são genocidas em tempos de paz".
E eis aqui a versão crua dessa passagem.
As vezes me pergunto porque os relatos raciais de Machado de Assis não nos chegam - oras, nosso maior nome literário, um negro - abolicionista... e não lemos sobre sua visão histórica?
Creio que essa negação é proposital, em menos de 30 páginas saio convencido da razão, Machado não é um crítico distante da escravidão, ele é um testemunho, mais que isso! É o seu interprete, vejam bem - não tiro o dever do asco daqueles que observam essa passagem maldita de nossa história, é nos "extraordinário" que pessoas tenham sido rebaixadas a objeto - porém, a Machado não foi permitido isso, as trevas pelas quais ele lutava contra eram lhe o cotidiano, eram o "ordinário' do dia-a-dia.
Como tratar o abate de animais para consumo como uma crueldade sem tamanho? É coisa da vida, precisamos desse sangue para viver, é costume... (contextualizem com 200 anos de traso agora). Oras - com igual dificuldade se teria para dizer que pretos eram pessoas.
Isso é o que temos nesta obra, o nosso "herói" - Claudinho, é justo um apanhador de escravos fugidos, herói ontem, vilão hoje - mas Machado tinha o dia certo para descrevê-lo.
Apanhamos a dura realidade de alguém submetido a sua realidade, Claudinho não era mau, bom marido, homem pacífico e um pai sonhador, um pai, que tudo faria para se manter ao lado do filho.
Claudinho, como homem de seu tempo - não via maldade em ganhar a vida retomando a prisão daqueles que sonhavam por serem livres, suas armas? Cordas e os punhos, o mesmo que hoje veríamos sendo usados contra animais. Lutava por seu pão como aqueles que lutavam por sua liberdade e, se cruzavam caminhos, travava-se a batalha. Machado não faz juízo de certo ou errado. Ele narra um fato, fato cruel, por óbvio - o confronto entre o servo do sistema e os submetidos a serem dele escravos.