Carlos Nunes 23/11/2020
Obra-prima do Naturalismo
Da mesma forma que Dickens na Inglaterra, Zola falava em seus livros da situação social do país, mas de forma muito mais crua e direta, característica do Naturalismo, do qual o autor é considerado o fundador e seu maior expoente. Nesse livro, Zola fala das relações de trabalho, especialmente dos mineiros do norte da França, no século XIX, cujas condições de vida e trabalho eram realmente desumanas. A trama se passa em uma mina de carvão, com o sugestivo nome de "Voreux" (voraz, em francês), e é protagonizada pela família Maheu, que trabalha toda na mina, mas mesmo assim vive em condições precárias. Ao local chega Etienne Lantier, um ferroviário em busca de emprego. Ao ver as condições em que (sobre)vivem os mineiros, sujeitos a um trabalho degradante e extremamente perigoso, sem as mínimas condições de segurança, higiene e conforto, num ambiente de total promiscuidade, onde convivem homens, mulheres, crianças, idosos e até animais, em condições extremas e totalmente insalubres, Etienne começa a incitar os mineiros a lutarem por melhores condições, e naturalmente alça o posto de líder dos mineiros, atraindo com isso o ódio não só dos patrões como também de alguns colegas.
Quando a companhia resolve diminuir ainda mais os salários, a situação dos mineiros piora ainda mais, e começam a passar fome. A fome e a miséria vão tornando as personagens cada vez menos humanas, e com atitudes mais e mais violentas. Aliás, o livro tem cenas bastante gráficas e chocantes, inclusive envolvendo cavalos - fica aqui o alerta para o leitor que se incomoda com cenas violentas com animais.
Apesar de todo esse viés social e político, a escrita desse livro não é difícil, a trama é envolvente, embora bastante descritiva, angustiante e claustrofóbica. Por conta disso, recomendo também o excelente filme de 1993, com Gerard Depardieu, uma adaptação excelente e bastante fiel ao livro, que ilustra muito bem o ambiente da trama, que acredito ser totalmente desconhecido por nós.
Um livro genial, pesado, angustiante, mas de leitura essencial, ainda hoje lido e estudado por historiadores, sociólogos e advogados, especialmente ligados às relações trabalhistas. Essencial.
Resenha completa em vídeo, no link abaixo.
site: https://youtu.be/8sVixILa948