Mariana - @escreve.mariana 22/10/2020Sussurros que gritam para serem ouvidos [IG: @epifaniasliterarias_]O conto "A mulher e o vento", da autora Fabiana Ferraz, se inicia após o casamento de Ana e Joaquim, em que ambos se mudam para uma casa no alto de um penhasco, isolados do restante do mundo, com vista para um mar em toda a sua imensidão e para um horizonte sempre recoberto por nuvens cinzentas. O interior da casa consegue ser ainda menos acolhedor, com pisos imaculados e paredes de madeira escura e sufocante.
Essa atmosfera apresenta um contraste perceptível em relação ao quarto escolhido para a esposa, localizado no segundo andar e com uma decoração de tons alegres, delicada e feminina. Na primeira interação entre eles, notamos a constante vigilância do marido com sua esposa, que inclusive ordenou que soldassem as janelas do quarto, para que nenhuma ventania entrasse e desestabilizasse aquele cenário perfeitamente arquitetado.
Entretanto, em uma das muitas noites que Joaquim está na cidade à trabalho, Ana começa a ouvir o vento batendo contra o vidro, cada vez mais forte. Esse lamuriar se transforma em um sussurro inconfundível: estão chamando pelo seu nome. Uma sensação de inquietude a toma por completo e ela resolve, então, descer as escadas e, pela primeira vez, confiar em seus instintos.
Apesar da premissa instigante, essa foi uma leitura que acabou não funcionando para mim. Isso porque, como já tive contato com contos clássicos do subgênero do terror feminista, como "O papel de parede amarelo", de Charlotte Perkins Gilman, e "O barba azul", de Charles Perrault, acabei perdendo alguns dos elementos surpresa inseridos no desenvolvimento e desfecho da história, os quais se tornaram um tanto previsíveis, por conta das semelhanças com as narrativas clássicas.
Assim sendo, recomendo essa leitura para aqueles que desejam começar a ler o gênero, por um conto de autoria contemporânea e nacional, que retrata de forma assustadoramente real as consequências que um relacionamento tóxico e abusivo pode ocasionar nas vivências e na saúde mental de uma mulher, a todo tempo depreciada, sufocada e cerceada pelos padrões impostos pelo patriarcado e pela misoginia.