Tamires 24/07/2019A criança em ruínas, de José Luís PeixotoA criança em ruínas é uma leitura que retoma, de certa forma, o sentimento exposto em Morreste-me. José Luís Peixoto mais uma vez demonstra, com toda a sensibilidade que lhe rendeu diversos prêmios literários, a beleza que ocorre quando os versos encontram o sentido no simples, em exprimir a humanidade das coisas.
“Na hora de pôr a mesa, éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu. depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha mãe viúva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.” (p. 10)
“felizmente, há os versos, último esconderijo da pureza.
porque o destino são os versos e os pombos que cruzam
o céu em círculos que sempre regressam.” (p. 25)
“eram as estrelas, caminhante,
o mapa que não soubeste decifrar
mas vais continuar e continuar
perdido para sempre.” (p. 45)
“(…) o amor é saber que existe uma parte de nós que deixou de nos pertencer. (…)” (p. 48)
Em A criança em ruínas, juntam-se ao luto as reflexões sobre a infância, o saudosismo, o amor e a dor de viver. É um livro espelho, fatalmente (ou não) o leitor se reconhecerá nos versos de Peixoto.
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