Rafaela (@exlibris_sc) 11/06/2020Lembrar para nunca esquecer e jamais repetirLeituras que trazem o holocausto judeu durante a Segunda Guerra nunca são fáceis, mas extremamente necessárias. Há alguns anos li “O Diário de Anne Frank” e lembro o quão vazia me senti após finalizar a leitura; a revolta sentida com o quão negro o mundo foi naquela época de conflitos e monstruosidades.
Agora em “Eu, Miep, Escondi a Família de Anne Frank” tive a oportunidade de conhecer mais o que aconteceu do lado de fora da porta camuflada por uma estante de livros no Het Achterhuis - O Anexo - onde oito judeus ficaram escondidos por anos das garras de Hitler e seus asseclas; e muito mais que isso, conhecer sobre Miep e os corajosos cristãos e seres de bom coração que ajudaram aqueles e outros tantos judeus que viveram todo o terror na Amsterdã, Holanda, ocupada pelos nazistas.
A história é trabalhada em três momentos: o primeiro, apresenta Miep desde sua infância em Viena, Áustria, até o instante em que os Frank se esconderam n’O Anexo; o segundo, traz o dia-a-dia dos bravos amigos que sabiam do segredo, suas dificuldades, desesperanças e esforços para que ninguém descobrisse os judeus; e o terceiro, contando sobre os dias finais da guerra que trouxeram o pior da tormenta antes do sol sair brilhante do céu escuro.
Apesar de vermos o que aconteceu com o mundo naquela época de forma mais verídica e tenebrosa, ainda assim a leitura é mais leve, ou menos opressiva, do que n’O Diário.
Miep com toda sua força, humildade e bondade vence cada obstáculo imposto ao longo de sua vida. Desde criança quando passa a morar na Holanda com uma família adotiva devido à sua saúde debilitada, sua busca por pertencimento ao decidir trabalhar, a luta para esconder os Frank, as preocupações constantes com sua vida, de seu marido - que fazia parte da resistência aos nazistas - e de outros entes queridos, a busca por comida e por momentos que alegrassem os judeus escondidos apesar deles viverem à beira de um precipício...
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O livro é enriquecedor no que diz respeito à história e ao que podemos encontrar no cerne humano quando os momentos se tornam tão terríveis quanto o pior pesadelo jamais imaginado. É sempre nessa hora mais sombria que realmente sabemos os valores de alguém. Uma leitura obrigatória para que jamais nos esqueçamos que a humanidade pode fazer o inominável, mas também pode lutar contra todas as chances de fracasso e sobreviver, além de ajudar outros a fazer o mesmo.
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Além da lição óbvia contida na história, do coração despedaçado pelo destino dos amigos d’O Anexo e da vida terrível para todos os que presenciaram aqueles tempos, tive a chance de viver, através dos olhos Miep, momentos bons, onde a alegria se assemelhava a uma gota de orvalho para o sedento morador do deserto; a ver que o significado de família se expande além dos laços de sangue, que nossa espécie unida faz muito mais por si, realiza obras enriquecedoras e ensina muito mais sobre amor e cuidado do que quando está separada por rótulos que não deveriam existir. Afinal, somos todos da mesma espécie. Não somos?
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“Depois da libertação, a união desapareceu rapidamente e as pessoas se dividiram mais uma vez em grupos e facções que discordavam umas das outras. Todo mundo voltou aos velhos hábitos, a própria classe, ao próprio grupo político. As pessoas mudaram menos do que eu pensei que mudariam.”
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